Até vimos estrelas

Entre o esgueirar pelos pingos de chuva e uma espera abrigada do aguaceiro seguinte, reparámos numas fitinhas brancas com centro amarelo, a balançar em caule curto de cor verde-erva. Apesar de minúsculas, mal se vendo de perfil, posaram para a foto e nós corremos (sim, chovia) para casa para as ver ampliadas no computador.


Stellaria media

As sépalas formam um cálice grande (que distingue a S. media de outras espécies de Stellaria) e alternam com as cinco (e não dez, como parece) pétalas estreitas divididas quase até à base. Em tão exíguo espaço, os outros orgãos da flor acomodam-se num pentágono com um Y de três estiletes ao centro. Estas plantas são frequentes em bosques de faias, e não é abusivo atribuir-lhes uso terapêutico. É que as cápsulas redondas dos frutos fazem um pop se apertadas entre o indicador e polegar, o que faz lembrar certas embalagens plásticas com bolhas igualmente crepitantes, cujo rebentamento pelo mesmo método manual tem reconhecidos efeitos calmantes.

A designação inglesa para este género de estrelas do hemisfério norte, que contém umas 150 a 200 (triliões?) de espécies, é chickweed porque são pitéus muito apreciados por galináceos. Percebemos finalmente a origem das duas cores do ovo, e reconhecemos como somos redundantes quando falamos de «ovo estrelado». Que serve para nos recompormos do choque de descobrir que afinal as galinhas alimentam-se de céu e fazem o grande favor de o transformar em algo comestível.