Camélias e gatos em Agramonte
Há duas actividades que nada têm de ofensivo mas são proibidas no cemitério municipal de Agramonte, no Porto. São elas tirar fotos e alimentar gatos. Se cometermos a ingenuidade de lá entrar com a máquina a tiracolo, somos de imediato alertados para a primeira proibição; quanto à segunda, ela está inscrita, de forma bem visível, numa tabuleta junto ao portão. Contudo, estas interdições trazem a marca do país de brandos costumes em que vivíamos antes da chegada da ASAE e da lei antitabagista: como comprovam as fotos, nenhuma delas é (felizmente) para tomar à letra. Quanto a mim, só desrespeitei, sem compunções, a proibição de fotografar; mas pude inferir, pelo ar próspero da população felina, que há também quem tenha a caridade de a alimentar. E é consolador, no Inverno, ver como os gatos realizam a sua peculiar fotossíntese de transformar o mais débil raio de sol em bem-estar absoluto.
Pode parecer de um gosto mórbido passear no cemitério quando existe, ali a dois passos, o jardim da rotunda da Boavista. Em comparação com uma ilha no meio do trânsito, o cemitério tem a óbvia vantagem do sossego, mas não se trata apenas disso: ele é mais rico do que a rotunda em variedade de plantas, cores e perspectivas; em tudo aquilo, afinal, que faz a qualidade de um jardim. Há nele uma exuberância vegetal que está ausente do jardim em má hora requalificado. De Agramonte, já aqui mostrámos as magnólias, um cedro-do-atlas e os liquidâmbares; há também teixos, sequóias, hibiscos, extremosas, arbustos diversos e uma alameda de palmeiras (Butia eriospatha). E há, em especial, um grande número de japoneiras mais-que-centenárias que estão agora em flor e recompensam amplamente a atenção do visitante.
3 comentários :
E eu todo convencido que estava a dar uma grande notícia, quando, inesperadamente, reparei que uma das 3 cameleiras que lá temos no jardim, num dia de sol de há poucos dias, já tinha camélias de folha dobrada, vermelhas, a mostrarem-se, como se me estivessem a sussurrar: já cá estamos de novo! E eu a pensar: não será cedo demais?!...
Um abraço
António
Concordo inteiramente, eu gosto da elevação e do silêncio do lugar, entre árvores que nos falam da vida. Mas esse gato totalmente tigrado e estirado ao sol, é demais!
"E é consolador, no Inverno, ver como os gatos realizam a sua peculiar fotossíntese de transformar o mais débil raio de sol em bem-estar absoluto."
Que frase tão bela! Poesia em estado puro
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