29/01/2008

Ao fundo das escadas, à direita



Fonte Fria / Fraxinus pennsylvanica

Não é inteiramente exacto que todas as árvores monumentais do Buçaco, sofrendo de incurável timidez, se escondam atrás das companheiras logo que algum fotógrafo ameace puxar da máquina. A Manuela já aqui mostrara o «Cedro de São José», que deixa ver de si o suficiente para dar irrefutável testemunho do seu gigantismo. Mas é mesmo verdade que, tirando aquelas árvores nos jardins do Palace Hotel (como a famosa Araucaria bidwillii), poucas destas gigantes se deixam acomodar num único cliché. Uma excepção é este freixo-da-Pensilvânia que se encontra ao fundo da chamada Fonte Fria, escadaria com muitos lanços bissectada por um fio de água que escorre de patamar em patamar, aqui e ali alargando-se em tanques ornamentais. A água desagua num lago quase circular, morada de um casal de cisnes pretos; o lago, um dos dois existentes no vale dos fetos, tem diâmetro suficiente para que, do outro lado, se possa fotografar o freixo na sua inteireza (3.ª foto).

E essa inteireza é de uma escala esmagadora, como comprovam as minúsculas figuras humanas na 2.ª foto. Esta árvore ultrapassa de longe as medidas recomendadas para a sua espécie: J. L. Farrar, no livro Trees of the Northern United States and Canada (1995), informa que o Fraxinus pennsylvanica é uma árvore de pequeno ou médio porte, atingindo alturas máximas de 25 metros. Como a distinção entre freixos é problemática, podia pôr-se a hipótese de a árvore estar mal identificada; mas custaria a crer que dois reputados especialistas como Jorge Paiva ou Francisco Coimbra estivessem ambos enganados. Devemos pois aceitar que as condições peculiares do Buçaco favoreceram este anormal crescimento. É aliás comum, em matas densas, que a competição pela luz leve as árvores a avantajarem-se em altura.

2 comentários :

SCS disse...

Fiquei sem fôlego.

Aquelas escadas apetecem romance russo,
dia de corte,
sopro de outra sorte.

Obrigada,
Vira Vento.

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Tive a sorte e o privilégio de visitar o Buçaco guiado pelo Professor Jorge Paiva; desta fabulosa colecção dendrológica, houve um "amor" que me ficou marcado mais que qualquer outro...este freixo.
Hei-de lá voltar "só" para o fotografar; até esse reencontro anunciado, o vosso texto e as vossa imagens tornaram a espera mais suportável. Obrigado.