Singularidades de uma vila
São muitas as singularidades de Ponte de Lima. A primeira é que a sede do concelho persiste, orgulhosamente, em ser vila, quando quase todas as nossas outras localidades de dimensão semelhante há muito que quiseram proclamar-se cidades. Por isso é a vila mais antiga de Portugal; uns anos mais e será, simplesmente, a vila de Portugal. A segunda singularidade é o espaço público impecavelmente cuidado, o que inclui, além da limpeza e do bom planeamento, uma arborização abundante (sem vestígios de podas camarárias) e a manutenção escrupulosa dos belos jardins.
A cinco quilómetros da vila, acessível por um caminho pedonal ao longo do rio, há uma reserva natural com cerca de 350 hectares, centrada nas lagoas de Bertiandos e de São Pedro d'Arcos e atravessada pelo rio Estorãos, que ali desagua no Lima. Declarada como zona húmida em 1990, foi inscrita em 1995 no Plano Director Municipal de Ponte de Lima como parte da Reserva Ecológica Nacional. E aqui manifesta-se uma terceira singularidade: em vez de pedir sucessivas desanexações à reserva, como costumam fazer, com a pressurosa colaboração do Governo da República, as autarquias preocupadas com o «desenvolvimento», a Câmara de Ponte de Lima ainda reforçou o seu estatuto de protecção, fazendo-a classificar em 2000 como área de paisagem protegida de âmbito regional.
Tanta singularidade tem que dar para o torto, argumentará o autarca desenvolvimentista: como é que terra que não betoniza a torto e a direito os seus valores naturais pode «criar riqueza»? O certo é que cria, pois o concelho tem um ar indiscutivelmente próspero. Sem ter inaugurado nenhuma atracção espampanante como a Bracalândia ou a «árvore» de Natal mais alta da Europa, Ponte de Lima é das terras mais visitadas do Minho (e de Portugal); e é-o pela singela razão de se manter bonita enquanto o resto do país (incluindo o Minho) se vai tornando cada vez mais feio.
Estas imagens documentam um dos possíveis passeios a pé com partida e chegada no centro de acolhimento das Lagoas: o percurso da veiga tem 6 Km de extensão, dos quais cerca de 2/5 são fora da reserva, atravessando povoações, campos de cultivo, vinhas e pomares. Os pontos mais atraentes do percurso são a lagoa de São Pedro - rodeada por esparsos eucaliptos improvavelmente fotogénicos - e, já fora da reserva, a ponte e a azenha do rio Estorãos, onde o antigo moinho (à direita na foto) foi convertido em hospedaria (as árvores em primeiro plano são amieiros). Vimos ainda velhas oliveiras, laranjeiras com muitas laranjas a apodrecer no chão, um curioso monumento com quatro mãos agarrando uma argola - dedicado à boa vizinhança entre quatro freguesias - e, para terminar, a amostra possível da fauna local à porta de sua casa.