25/07/2011

Desuva

Vaccinium cylindraceum Sm.
Os mirtilos, pequenos frutos esféricos e azulados a que os anglo-saxónicos chamam billberries, blueberries ou cranberries, não são coisa que os portugueses consumam regularmente. A situação está em vias de mudar com o cultivo em larga escala do mirtilo em São Pedro do Sul e concelhos vizinhos. O desconhecimento do fruto em Portugal explica-se em parte pela raridade na natureza do arbusto que o produz, o Vaccinium mirtyllus. Fosse ele tão vulgar por cá como nos países do norte da Europa, e ter-nos-íamos habituados desde pequenos a colher mirtilos nos bosques e nos matos, como fazemos com as amoras silvestres. Ainda assim, o arbusto é mais comum do que se pensa: no Gerês é frequente encontrá-lo. Acontece que nessas populações silvestres a produção de frutos é tão escassa, e os poucos frutos que há são tão pequenos, que até um passarinho raparia uma fome negra se dependesse em exclusivo de tal dieta.

Deixemos o continente e rumemos umas centenas de quilómetros a oeste. Nos Açores não há mirtilos: o que há é a uva-do-mato, que é maior e melhor. Como arbusto ornamental, o Vaccinium cylindraceum, que é endémico dos Açores e ocorre em todas as ilhas do arquipélago excepto na Graciosa, suplanta largamente o V. mirtyllus. Pode chegar aos 3 m de altura, enquanto que o seu congénere continental não passa de um arbusto rasteiro. Entre Maio e Julho, as flores tubulares tingidas de vermelho aparecem profusamente em vistosos cachos. Não sabemos é dos usos culinários do fruto. Como ele é considerado comestível, e o arbusto é comum em grande parte do arquipélago, é plausível que seja usado em bolos e compotas. Mas talvez algum leitor açoriano nos possa esclarecer.

Dizem os livros que o Vaccinium cylindraceum, componente habitual da floresta húmida açoriana, ocorre de preferência acima dos 300 metros de altitude. Na ilha das Flores, porém, não parece respeitar esse limite, surgindo também em zonas baixas perto do mar. E é frequente, em taludes mais arborizados, que as flores, ao cair, estendam um tapete vermelho na berma da estrada.

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