Estranho pólen
Salix arenaria L.
[em baixo à esquerda, flores femininas; à direita, flores masculinas]
[em baixo à esquerda, flores femininas; à direita, flores masculinas]
Os choupos (género Populus) e salgueiros (género Salix), por pertencerem à mesma família botânica, têm algumas características em comum. Uma delas é que, tal como os animais, as populações destas árvores estão organizadas por sexos. Há árvores masculinas e árvores femininas: só as primeiras é que produzem pólen e só as segundas é que produzem sementes. As flores masculinas dispõem-se em amentilhos flexíveis, largando o pólen quando o vento as agita; excepcionalmente, o transporte do pólen para as árvores femininas pode também ser feito por insectos devidamente recompensados com néctar. Depois de polinizadas, as flores femininas convertem-se em frutos que, abrindo-se, deixam ver os tufos de «algodão» que rodeiam as sementes. Esse «algodão» é o modo de as sementes criarem asas e serem dispersadas pelo vento a grandes distâncias. Entre fins de Abril e princípios de Maio, quando as sementes são libertadas, andam flocos brancos pelo ar como se caísse uma neve seca. Em muitas cidades de Portugal, onde o choupo híbrido (Populus x canadensis) foi plantado em larga escala, é essa a altura de as pessoas se queixarem das suas alergias, atribuindo as culpas àquilo a que chamam pólen dos choupos.
Há aqui, evidentemente, vários equívocos. Chamar pólen às sementes do choupo é tão disparatado como chamar pólen às pevides de uma laranja. E esse algodão que envolve as sementes, podendo ser motivo de algum incómodo, não é o responsável pelas alergias. São os pólenes invisíveis de que o ar está carregado — produzidos por gramíneas, por árvores de fruto, e até por ervas espontâneas como a Parietaria judaica — que provocam as reacções alérgicas. Mas como o que se vê é o «pólen dos choupos», toca de amaldiçoar a árvore e exigir o seu abate. Decorre no país, de norte a sul, uma caça ao choupo que parece uma caça às bruxas. É sempre mais fácil gratificar a ignorância (como se faz nesta vergonhosa notícia do JN, em que até uma «especialista» patenteia a sua incompetência) do que tentar corrigi-la.
São fotos do salgueiro-anão que encabeçam esta prosa; está pois na altura de falarmos dele. Trata-se de um arbusto em geral rasteiro, mas que por vezes atinge 1,5 m de altura. Em Portugal parece estar restrito ao litoral entre o Mindelo (Vila do Conde) e Peniche. A Mata Nacional das Dunas de Quiaios, local onde as fotos foram captadas, reúne das maiores e mais bem conservadas populações da espécie que conhecemos.
Há algumas dúvidas taxonómicas quanto a este salgueiro: há quem considere que Salix arenaria e Salix repens são sinónimos, outros opinam que o primeiro é subespécie do segundo, outros ainda que se trata de duas espécies autónomas. Em todo o caso, parece haver duas formas suficientemente distintas do salgueiro-anão: a que vive nas dunas do litoral (S. arenaria) e outra, em geral menos corpulenta, que se encontra nalgumas (poucas) turfeiras da serra do Gerês (S. repens).
2 comentários :
Uma vez mais aprendi hoje mais alguma coisa. Obrigado.
O plátano, tão utilizado como árvore de alinhamento nas nossas avenidas (possuímos alguns belíssimos exemplos como o plátano majestoso da Av. da Liberdade, em Portalegre). Já a outra Av. da Liberdade, em Lisboa, é um verdadeiro inferno com aquele amontoado de, vulgo, sementes.
Sofro de alergia principalmente ao plátano, à artemísia e ao pó da casa. Onde trabalho, tenho 3 enormes plátanos. Nos meses de primavera é muito complicado. A janela tem de estar sempre fechada, e mesmo assim, todos os dia na minha secretária e teclado aparecem incontáveis minúsculas "fibras" (parecem aqueles espinhos/pelos dos figos de piteira). Não há outra solução, fechar janelas e reduzir as idas à rua nos meses complicados. Gosto daquelas árvores, mas confesso que me complicam a vida.
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