Rei de paus
Lycopodium clavatum L.
A Flora Digital de Portugal chama-lhe licopódio-da-Estrela, ensinando-nos que, apesar de ser subcosmopolita, as populações conhecidas desta herbácea em território português estão todas na serra da Estrela. Esta planta perene aprecia matagais de meia-sombra, bosques com solo ácido ou margens de lagoas, turfeiras e brejos, aceitando até colonizar taludes rochosos, mas pede clima frio de montanha (entre os 700 e os 2000 m) e desaparece se o habitat é perturbado. Os incêndios que regularmente afligem a serra da Estrela, e outras consequências do uso que dela se faz, colocaram este feto à beira da extinção, com lugar obrigatório na lista das maiores prioridades para acções de conservação. Contudo, os exemplares que o Paulo fotografou, talvez não mais que meia dúzia, escondidos sob denso mato de juníperos na margem de uma lagoa (a que chegámos gentilmente guiados por Alexandre Silva, do CISE), viram recentemente o seu torrão abalado pelo alargamento de um caminho; tão próximo passa ele da lagoa que, numa próxima obra do género, as plantas não escaparão. Assim vai a defesa do nosso património natural.
Um outro nome vernáculo da planta, pata-de-lobo, parece tradução do nome científico (o termo grego lykos significa lobo e podion refere-se a pé) e alude à semelhança algo fantasiosa da extremidade dos ramos às patas destes bichos. A outros, elas lembram caudas de raposa, pinheirinhos rastejantes ou o enfeite do chapéu do Robin dos Bosques, e estes são mais alguns dos nomes simpáticos com que enaltecem a planta. Porém, o detalhe mais importante, que distingue este género da Lycopodiella, é este: entre Julho e Setembro, nascem espigas férteis, os estróbilos com os esporos, que são "pinhas" estreitas de cor bege no topo de pecíolos altos (cerca de 10 cm de altura e quase sem folhas). Lineu viu nelas umas pequenas clavas (por isso clavatum); mas, como elas nascem aos pares (ou mais raramente aos trios), outros compararam-nas a chifres de veado, e daí a designação inglesa stag's-horn clubmoss.
No resto do ano, só se encontram os talos prostrados (que podem chegar aos 80 cm) e, tal como acontece com a Lycopodiella, bem firmes no solo porque lançam raízes a intervalos regulares. Os ramos, frequentemente em pose ascendente, acrescentam mais uns 10 a 20 centímetros ao conjunto e as folhas (os micrófilos, dispostos em hélice), embora minúsculas (3 a 7 mm de comprimento), cobrem-nos densamente e adelgaçam-se na ponta, terminando num fio alongado e flexível que dá ao feto um aspecto peludinho mas despenteado.
O pó-de-licopódio, feito com os esporos, tem propriedades medicinais; e, atestam alguns autores, foi usado nos primórdios da técnica de fotocopiar.
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