05/09/2011

Goivo dourado

Erysimum merxmuelleri Polatschek


A Flora Ibérica enumera 21 espécies indígenas de Erysimum na Península; se contarmos com subespécies, o número sobe para 23. Dir-se-ia que a natureza, por vezes, se entretém a recombinar espécies com um afinco digno dos melhores jardineiros-viveiristas. Da riqueza botânica que tal impulso criador produziu, pouco coube a este rectângulo ocidental, pois só três das espécies têm presença confirmada no nosso país: o duriense Erysimum linifolium; o Erysimum lagascae, uma espécie escassamente vista por cá que se distingue da anterior pelas folhas mais largas; e, por fim, o Erysimum merxmuelleri, o goivo dourado da Serra da Estrela, com uma área de distribuição que se estende pela cordilheira central ibérica até Gredos.

As hastes elegantes, de 50 a 60 cm de altura; as folhas inteiras, simples, com veio central bem vincado; as flores grandes e vistosas, com 2 a 3 cm de diâmetro — tudo isso ajuda a não confundir o Erysimum merxmuelleri com outras crucíferas de flores amarelas. Por ausência de espécies semelhantes, a identificação é para nós tarefa simples. Já os espanhóis têm que se haver com seis espécies (ou micro-espécies) de Erysimum de flores amarelas que são pequenas variações umas das outras, e com mais umas tantas análogas que resistem a deixar-se catalogar. A outra face da fartura é a confusão; pobreza é simplicidade. Temos pouca coisa, mas sabemos o que temos.

Ou não? Devemos admitir que a selecção das fotos ilustrativas foi norteada pela preocupação de não mostrar como as folhas de algumas plantas fugiam ao figurino estabelecido para o E. merxmuelleri: as margens, em vez de serem inteiras, estavam marcadas com três ou quatro pares de dentes. Tal constatação causou-nos alguns calafrios. E se se tratar de outra espécie? Qualquer dia vai por aqui a mesma trapalhada que reina em terras de Espanha. O mais sensato é ocultar a descoberta.

Uma leitura mais atenta da Flora Ibérica devolveu-nos a tranquilidade. É que, dentro do sexteto de micro-espécies de que o E. merxmuelleri faz parte (e que é liderado pelo E. nevadense), são admitidos os dois tipos de folha, com ou sem dentes, embora a forma desdentada seja a mais comum. Nada a temer, portanto, destes dentes que não mordem.

2 comentários :

Carlos Aguiar disse...

Fotografada na subida de Seia para as Penhas da Saúde?

Paulo Araújo disse...

Por acaso também a vimos ao longo dessa estrada (no princípio de Julho ela dava muito nas vistas numa zona de mato queimado, logo acima da Lagoa Comprida), mas as fotos foram tiradas à entrada do Covão d'Ametade, em meados de Maio.