Musgo dos druidas
Consta que, apesar de a planta ser venenosa (ou talvez por isso mesmo), os druidas colhiam a Huperzia selago como ingrediente para as suas poções. Mas nos Açores, desabitados até ao século XV, nunca existiram druidas, e as Huperzia que lá ocorrem, ainda que semelhantes às europeias, pertencem a uma outra espécie. Não será porém desajustado baptizá-las como musgo-dos-druidas, pois o erro de chamar musgo a uma planta vascular aparentada com os fetos é corrente noutras línguas: os ingleses, por exemplo, chamam firmosses às plantas do género Huperzia, e clubmosses às dos géneros Lycopodium ou Lycopodiella. O fir em firmoss explica-se pela semelhança da Huperzia com um jovem abeto, mas não seria absurdo lermos em firm uma alusão ao porte erecto destas plantas — que, em contraste com a Lycopodiella, não desenvolvem caules rastejantes.
Ambos estes falsos musgos, que aliás integram a mesma família botânica, são presença comum nas ilhas açorianas, e por isso será útil assinalar-lhes outras diferenças. As hastes da Huperzia, que se bifurcam dicotomicamente, atingem os 30 cm de altura; a Lycopodiella também faz emergir hastes erectas do seu caule, mas são muito mais ramificadas, parecendo árvores de Natal em miniatura. Na Huperzia os esporângios estão distribuídos ao longo do caule — são aqueles feijoõzinhos amarelos nas axilas das folhas —, enquanto que na Lycopodiella eles se concentram nas extremidades dos galhos.
O epíteto dentata no musgo-dos-druidas açoriano refere-se aos pequenos dentes nas margens das folhas que são visíveis na foto da direita. De facto, há uma outra espécie nas ilhas, a Huperzia suberecta, que se diferencia sobretudo pela ausência dessa micro-dentadura. Durante muitos anos a ocorrência de duas espécies autónomas de Huperzia nos Açores (e na Madeira, onde elas também aparecem) foi motivo de discórdia, mas este artigo de 2008 no Botanical Journal of the Linnean Society pôs tudo em pratos limpos.
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