Senhor das suas folhas
Halimium halimifolium (L.) Willk. — Mata Nacional das Dunas de Quiaios
A foto de uma flor não é uma flor; e, para os saudosistas do papel, aquilo que se vê no écran, e que se pode apagar carregando numa tecla, talvez não seja bem uma foto, mas uma ilusão. Dupla ilusão, portanto: a ilusão de uma foto onde está representada a ilusão de uma flor. Mas que fazer quando a realidade da flor já não está ao nosso alcance? Quando no pinhal onde floriu esta sargaça, e que não nos fica assim tão perto de casa, a vida está suspensa até à próxima temporada? Mostrar a flor, ou a ilusão da ilusão da flor, é marcar no calendário de 2011 um lembrete para o regresso.
O Halimium halimifolium, que no nosso país vive nos pinhais costeiros do centro e do sul, e de um modo geral se distribui pela metade oeste da bacia mediterrânica, é certamente o arbusto mais atraente de um género a que temos prestado atenção assídua (confira aqui, aqui e aqui). Com o seu porte empertigado (pode ultrapassar o metro e meio de altura) e a sua folhagem de um verde prateado, destaca-se pelas grandes flores amarelas, com ou sem pintas, que brotam profusamente entre Junho e Agosto. É nessa altura que os pinhais onde vive se transfiguram em jardins requintados, atravessados por uma mescla de perfumes onde sobressaem a caruma e a maresia.
A variabilidade das flores merece uma nota: o tamanho da mancha castanha na base das pétalas pode variar, mas é uniforme em cada arbusto. A mesma planta ou dá só flores sem pinta, ou as dá só com pinta, e sempre com a pinta do mesmo tamanho. Contudo, essas oscilações cromáticas não parecem ter qualquer significado taxonómico.
O nome Halimium halimifolium, que traduzido à letra dá um lapalissiano halímio com folhas de halímio, pode suscitar alguma estranheza. A aparente idiotice deve-se a Lineu, por em 1751, no seu Species Plantarum, ter chamado à planta Cistus halimifolius; o alemão Wilkomm, quando em 1878 a transferiu para o género Halimium, foi obrigado a manter o epíteto específico. E, de facto, o halimifolium (ou halimifolius) não foi motivado pela semelhança do arbusto consigo mesmo, mas sim com a salgadeira (Atriplex halimus). Essa outra planta, a que os gregos chamavam hálimos, tem folhagem igualmente acinzentada e é característica dos sapais mediterrânicos, surgindo em Portugal da ria de Aveiro para sul.
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