Viúva alegre
No Verão, entre outras andanças, procurámos no Gerês esta herbácea que é um quase-endemismo ibérico (o quase é culpa da França). Os capítulos florais, onde se nota um gradiente de tamanho nas flores, sendo as periféricas maiores (para quê?), parecem os do género Scabiosa — e o nome vernáculo luso é, enganadoramente, escabiosa de bosque —, mas as corolas tubulares na foto têm quatro pétalas desiguais. Depois de descer um acesso acidentado ao vale do rio Beredo, a cerca de mil metros de altitude, parando — demasiadas vezes, reclamou o fotógrafo — para admirar orquídeas, encontrámos uma dúzia de pés em flor num bosque de carvalhos-negrais. Um regalo, de frescor e formosura.
Das oitenta espécies do género Knautia, nativas da região mediterrânica e Europa, apenas nove ocorrem na Península Ibérica, e só duas se conhecem em Portugal: diz a Flora Ibérica que, além da K. nevadensis, também temos a K. subscaposa Boiss. & Reut., igualmente perene e apreciadora de prados, a que chamamos saudade-brava, talvez por raramente se conseguir avistar. Os que, pelo contrário, são abonados com populações vastas deste género, que exibe um inquieto polimorfismo e ampla hibridação interespecífica, vêem-se à nora para acertar com a identificação das suas numerosas espécies. Quem dera.
Vamos às medidas, que as fotos não permitem adivinhar. Cada inflorescência, redonda e plana, mede cerca de 7 cm de diâmetro e é sustentada por um anel de uma dezena de brácteas; a corola, de garganta penugenta, não ultrapassa os 2 cm e é agasalhada por um cálice de oito ou mais sépalas estreitas e lanosas; ao centro reúnem-se quatro estames e um estilete longo com um estigma bilobado. As flores são, em geral, hermafroditas, havendo contudo inflorescências só femininas. A planta é alta, com caules de até um metro (mas as que vimos eram mais pequenas), folhas basais em roseta, as superiores opostas e sésseis. O fruto é um aquénio com um pára-quedas no topo que é o ex-cálice.
A espécie foi descrita a partir de indivíduos de Sierra Nevada, na Andaluzia. O nome do género homenageia, desde 1907, um dos irmãos Christian (1654-1716) ou Christoff Knaut (1638-1694), ambos médicos e botânicos alemães, contemporâneos e da mesma cidade de G. F. Handel (1685-1759). A dúvida obriga a que se mencionem sempre os dois manos, o que, se não for justo, é providencial.
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