Sinos da lava
A vidália é a única espécie do género Azorina, e ocorre exclusivamente nos Açores — em todas as ilhas, sabe-se hoje, depois de descobertos dois nichos na Graciosa —, estando o maior número de populações naturais nas ilhas do Pico, Flores, S. Jorge e Corvo. Mas esta espécie está em perigo de desaparecer. É certo que vive em lugares de risco (arribas, reentrâncias rochosas de falésias, praias de calhau rolado e escoadas de lava), exposta a derrocadas e vendavais; contudo, a maior ameaça vem-lhe da pressão urbanística, da perturbação turística nestas áreas sensíveis e do avanço da flora exótica. Problemas que Portugal tem a obrigação de resolver como signatário da Convenção de Berna e da Directiva Habitats, que atribuem prioridade a esta planta nas acções de conservação. Pela profusão de planfletos distribuídos pelo Ministério do Ambiente, neste ano internacional da biodiversidade, apenas listando as plantas ameaçadas — sem qualquer indicação de programas de protecção ou sequer indício de que o assunto tenha algum destaque na agenda política — dir-se-ia que se julga meritória a mera presença de tantas plantas quase extintas e que isso nos confere um estatuto especial que naturalmente o resto do mundo inveja e que, por isso, convém manter.
Crê-se que a vidália foi primeiro identificada pelo botânico inglês Hewett Cottrell Watson (1804-1881), durante a expedição botânica de 1843 na costa da vila de Santa Cruz das Flores. Designou-a então Campanula vidalii, mas em 1890 o suíço Heinrich Feer (1857-1892) descortinou diferenças morfológicas suficientes para a emancipar no novo género Azorina. Nessa viagem, o navio foi comandado pelo oficial da marinha britânica Alexander Thomas Emeric Vidal, responsável pelo levantamento hidrográfico das ilhas açorianas, entre 1841 e 1845.
Na ilha Terceira, onde a vimos, há três populações nas zonas litorais baixas de Quatro Ribeiras, Porto Martins e Monte Brasil, num total de cerca de mil plantas. É um arbusto de crescimento lento cujo caule, que contém um látex branco, pode, segundo algumas fontes, atingir metro e meio de altura, embora as plantas que vimos se fiquem muito abaixo dessa marca. As folhas verde-acastanhadas, de margens ligeiramente dentadas, formam rosetas terminais vistosas. Mas foram as flores, campânulas de porcelana com cerca de 3 cm de diâmetro (e havia poucas porque a época já ia adiantada), que nos fizeram, em Porto Martins, no sudeste da ilha, andar num sino à chuva pela praia.
1 comentário :
Segundo me parece, na primeira fotografia espreitam alguns pés de chorão, uma das tais exóticas invasoras.
Relativamente às invasoras que lentamente vão estendendo os seus tentáculos, ninguém se incomoda. À biodiversidade ainda ninguém atribui um valor económico, quando o fizerem já poderá ser tarde.
Cumprimentos.
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