04/11/2010

Sinos da lava

Azorina vidalii (H.C. Watson) Feer
A vidália é a única espécie do género Azorina, e ocorre exclusivamente nos Açores — em todas as ilhas, sabe-se hoje, depois de descobertos dois nichos na Graciosa —, estando o maior número de populações naturais nas ilhas do Pico, Flores, S. Jorge e Corvo. Mas esta espécie está em perigo de desaparecer. É certo que vive em lugares de risco (arribas, reentrâncias rochosas de falésias, praias de calhau rolado e escoadas de lava), exposta a derrocadas e vendavais; contudo, a maior ameaça vem-lhe da pressão urbanística, da perturbação turística nestas áreas sensíveis e do avanço da flora exótica. Problemas que Portugal tem a obrigação de resolver como signatário da Convenção de Berna e da Directiva Habitats, que atribuem prioridade a esta planta nas acções de conservação. Pela profusão de planfletos distribuídos pelo Ministério do Ambiente, neste ano internacional da biodiversidade, apenas listando as plantas ameaçadas — sem qualquer indicação de programas de protecção ou sequer indício de que o assunto tenha algum destaque na agenda política — dir-se-ia que se julga meritória a mera presença de tantas plantas quase extintas e que isso nos confere um estatuto especial que naturalmente o resto do mundo inveja e que, por isso, convém manter.

Crê-se que a vidália foi primeiro identificada pelo botânico inglês Hewett Cottrell Watson (1804-1881), durante a expedição botânica de 1843 na costa da vila de Santa Cruz das Flores. Designou-a então Campanula vidalii, mas em 1890 o suíço Heinrich Feer (1857-1892) descortinou diferenças morfológicas suficientes para a emancipar no novo género Azorina. Nessa viagem, o navio foi comandado pelo oficial da marinha britânica Alexander Thomas Emeric Vidal, responsável pelo levantamento hidrográfico das ilhas açorianas, entre 1841 e 1845.

Na ilha Terceira, onde a vimos, há três populações nas zonas litorais baixas de Quatro Ribeiras, Porto Martins e Monte Brasil, num total de cerca de mil plantas. É um arbusto de crescimento lento cujo caule, que contém um látex branco, pode, segundo algumas fontes, atingir metro e meio de altura, embora as plantas que vimos se fiquem muito abaixo dessa marca. As folhas verde-acastanhadas, de margens ligeiramente dentadas, formam rosetas terminais vistosas. Mas foram as flores, campânulas de porcelana com cerca de 3 cm de diâmetro (e havia poucas porque a época já ia adiantada), que nos fizeram, em Porto Martins, no sudeste da ilha, andar num sino à chuva pela praia.

1 comentário :

Rafael Carvalho disse...

Segundo me parece, na primeira fotografia espreitam alguns pés de chorão, uma das tais exóticas invasoras.
Relativamente às invasoras que lentamente vão estendendo os seus tentáculos, ninguém se incomoda. À biodiversidade ainda ninguém atribui um valor económico, quando o fizerem já poderá ser tarde.
Cumprimentos.