29/06/2010

Arreganhando o dente


Lathraea clandestina L.

Para uma árvore altaneira como um choupo, ou airosa como um salgueiro, ter aos pés uma flor púrpura com este sainete deve justificar a despesa - afinal a bajulação também é companhia. Além disso, esta parasita é sensível à humidade, ajustando a cor como os santos meteorológicos que se vendem em lojas devotas. E, em vez de contarmos as andorinhas nos fios lassos da companhia telefónica, podemos deduzir por estas flores que o Verão já não demora. Úteis, portanto.

A purple toothwort é uma planta perene e carnuda mas sem clorofila, que sobrevive das raízes de árvores na floresta ou à beira de água. A poupança nas folhas (rudimentares, que só se vêem se esgaravatarmos a terra) contrasta com a exuberância das flores: quatro sépalas formam um esbelto cálice de bicos (conseguimos vê-lo até nas flores ainda abotoadas) que envolve a corola tubular erguida até uns 6 cm: as quatro pétalas são de cor lilás, rosa ou branca, três delas mais curtas e unidas num lábio; no capuz, cabem ainda quatro estames e um estilete encurvado (cuja ponta se nota no topo da pétala maior de várias flores da foto à esquerda). É polinizada por abelhas ou moscas, mas a auto-polinização é opção comum. O fruto é uma cápsula recheada de sementes que por vezes explode para as disseminar com maior eficácia.

Revendo a lista de ingredientes, parece que temos tudo para ela ser abundante por cá: moscas, riachos, Primavera. Faltam-nos, contudo, árvores e florestas, que os arboricidas não se cansam de perseguir o deserto. As dentuças das fotos são de um bosque de avelaneiras e amieiros em Wakehurst Place (condado de Sussex, a sul de Londres), onde a planta, originária do continente europeu (Bélgica, França, Itália e Espanha), foi introduzida e se naturalizou.

Lathraea deriva do grego lathraios, escondido, aludindo à existência essencialmente subterrânea desta parasita; clandestina tem o mesmo significado, mas em latim.

1 comentário :

ZG disse...

Que maravilha!!