Semana da boa vida
Inauguramos hoje a nossa primeira semana temática, inteiramente dedicada ao parasitismo vegetal. Ainda que não enjeitando uma leitura antropocêntrica, não é nossa intenção fazer um comentário enviesado à actualidade portuguesa; limitar-nos-emos a mostrar que também no reino das plantas o oportunismo e a boa vida andam muitas vezes a par. Entendemos por oportunismo a capacidade de, sem nada lhes dar em troca, usar os outros para sustentar um estilo de vida desafogado e até luxuoso. Mas em tudo isto existem graus: há parasitas que extraem todo o seu sustento do hospedeiro, e outras (ditas hemiparasitas) que, dispondo de folhas verdes, conseguem realizar a fotossíntese, e por isso apenas se servem das outras plantas para lhes chuparem água e nutrientes minerais. Curiosamente, as plantas do primeiro grupo são muitas vezes mais empertigadas e vistosas do que as do segundo. Trabalhando, ainda que pouco, para viver, não espanta que às hemiparasitas falte o brilho aristocrático que só pode advir da mais completa ociosidade.
(Se o leitor carregar na etiqueta Orobanchaceae aí ao fundo, e der também uma espreitadela aqui, verá todas as plantas parasitas que já figuraram neste blogue. Três delas — Parentucellia latifolia, Bartsia trixago e Parentucellia viscosa — são hemiparasitas.)
Para a sessão de abertura convocámos a mais corpulenta representante do seu género; uma planta a quem, pelo seu porte intimidatório (caule grosso, com uns 80 cm de altura), assentaria que nem uma luva o milionário e honorífico cargo de Presidente do Conselho de Administração (CEO em português corrente). Com um modo de vida de fazer inveja aos barões do capitalismo, a Orobanche rapum-genistae rodeia-se de um exército de servos — leguminosas arbustivas dos géneros Genista, Ulex e Cytisus — que lhe satisfazem todos os caprichos e recebem salário zero.
Qualquer plutocracia deixa de o ser quando alarga os privilégios de que goza a um grupo numeroso. A Orobanche rapum-genistae tem uma distribuição esparsa no nosso território, e as populações que forma parecem em regra ser escassas. As da foto moram no concelho de São João da Pesqueira, no talude da estrada que desce para a barragem da Valeira — um dos raros locais do Douro onde se vislumbra como terá sido a biodiversidade da região antes do cultivo intensivo da vinha e do uso desvairado de herbicidas.
1 comentário :
é tão bonita , parece coberta com pó de ouro ...
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