21/06/2010

Da erudição popular

Stachys germanica subsp. lusitanica (Hoffmanns. & Link) P. Cout.
Já aqui referimos de passagem o extraordinário nome que, segundo algumas fontes, o nosso povo terá congeminado para esta planta: betónica-da-Alemanha (subespécie-de-Portugal). Por muito inconcebível que nos pareça tal atribuição, o nome merece ser dissecado. Para começar, a que vem o termo betónica? O caso é que certas plantas do género Stachys, entre elas a muito comum S. officinalis, já foram incluídas num género autónomo, chamado Betonica, posteriormente absorvido pelo género Stachys. A palavra betónica terá origem celta, e referir-se-à à suposta eficácia da planta em repelir bruxedos e assombrações.

O resto da alegada designação vernácula, por ser tradução literal do nome científico, não suscita grandes explicações. Há que ressalvar, porém, que a Stachys germanica anda longe de ser um exclusivo teutónico, visto que ocorre em quase toda a Europa e também no norte de África. De igual modo, a subespécie lusitanica está presente não apenas em Portugal, mas também em Espanha e em Marrocos. Fica o povo avisado de que, quando quiser inventar nomes portugueses para as plantas, é melhor não tomar à letra as designações científicas, sobretudo quando elas são ditadas por impulsos nacionalistas.

Já outras plantas do género Stachys, como a S. palustris, a S. sylvatica e a S. arvensis, mereceram um nome de índole reconhecivelmente popular, que também não assentaria mal à S. germanica: rabo-de-raposa. Talvez ele se refira à forma da inflorescência ou, mais provavelmente, ao atraente carácter felpudo destas plantas, que tanta vontade dá de lhes passar a mão pelo pêlo. Foi essa qualidade que fez da exótica S. byzantina, a conhecida orelha-de-cordeiro ou orelha-de-lebre, uma planta tão apreciada em jardinagem.

A S. germanica é espontânea no centro e sul de Portugal, em terrenos pedregosos ou baldios e em orlas de bosques, e floresce de Abril a Agosto. Atinge uns 80 cm de altura e parece ser atraente para abelhas, borboletas e besouros, que entre si cooperam nos esforços de polinização.

1 comentário :

Anónimo disse...

Pois lá já não está mesmo pousada uma pequenina borboleta a buscar o aconchego felpudo dessa preciosidade?

Uma lindeza lusitanica betónica capaz de repelir bruxedos e assombrações...Adorei!

Angélica