Trovisco do Gerês
Thymelaea broteriana P. Cout.
Como sabemos por Hansel e Gretel (da fábula dos Irmãos Grimm), as migalhas de pão não servem pois podem ser comidas pelos pássaros. O novelo de fio de Ariadne tem préstimo em percurso curtos, mas não nos sinuosos que consomem mais de três horas. Felizmente, numa terra onde o granito se vai esboroando, quebrado pela neve e pelo sol, há outra solução para os caminhantes pávidos: as mariolas, regionalismo que nomeia empilhamentos de pedras, em geral com formato piramidal, que nos guiam pelas serras de muitos corredores todos iguais. De vez em quando, juntamos mais um calhau ao monte para o estabilizar — não vá o conjunto desfazer-se numa derrocada — ou para o tornar mais visível.
E há mais quem goste deste solo seco e fragmentado como cascalho. O arbusto das fotos, que não ultrapassa os 50 cm de altura (e em geral se fica por bem menos) mas tem ramagem densa, é um endemismo no norte do país (Serras do Gerês e Alpedrinha) e do noroeste espanhol. Figura na lista de espécies de interesse da Comunidade Europeia, sob protecção estrita através da Directiva Comunitária de Habitats. Chamaram-nos a atenção as flores pequeninas, que nascem em Abril e Maio, e lembram as do género Daphne. São tubos sem pétalas — contendo oito estames aderentes à superfície interior e um estilete não central — cujo topo é lobado. As folhas são sésseis e sem estípulas, semelhantes às da urze, com as margens de tal modo reviradas que quase ocultam a face superior coberta por uma penugem branca.
Há autores que a designam Thymelaea coridifolia (Lam.) Endl. subsp. broteriana (P. Cout.) Malag. Esta denominação teve origem na espécie T. coridifolia (epíteto atribuído por Lamark e que apela à semelhança das folhas com as do género Coris); nela Ramón de Penafort Malagarriga enxertou como subspécie (broteriana) o nosso trovisco — que, anteriormente, António Xavier Pereira Coutinho considerara como espécie autónoma, categoria que hoje lhe é geralmente reconhecida entre as cerca de 17 espécies europeias de Thymelaea. Se os nomes dos recém-nascidos tivessem origem nas características da cria, e não em vínculos aos progenitores ou, mais frequentemente, na moda, poderíamos assistir a idêntica evolução nos antropónimos para designações cada vez mais fiéis aos seus usuários.
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