18/06/2010

Erva de pintar taludes

Oenothera biennis L.

Oenothera glazioviana Micheli in Mart.
aqui explicámos como as auto-estradas podem ser profícuo campo de estudo para quem se interesse por botânica, mas a lição ficaria incompleta se não mostrássemos uma das plantas mais frequentes nas bermas e taludes das modernas grandes vias. O que acontece é que o esforço ultra-higienista de limpar tal vegetação tem apenas como resultado substituir umas plantas por outras. As plantas indígenas ecologicamente mais interessantes cedem lugar às plantas ruderais, mais capazes de sobreviver aos sobressaltos das limpezas periódicas. Muitas delas foram introduzidas como ornamentais e, tendo-se naturalizado no nosso território, chegam mesmo a comportar-se como invasoras, prejudicando seriamente a vegetação nativa.

Por esta altura é vulgar observarem-se grandes extensões de talude pintadas de amarelo. Não o amarelo vivo dos malmequeres rasteiros, mas o amarelo mais pálido de umas grandes flores que parecem lenços amarrotados pendurados em cabides. Quem fornece tal entretenimento visual são plantas norte-americanas do género Oenothera. Foram muito estimadas na jardinagem europeia antes de resolverem encarregar-se elas mesmas da sua propagação. Aliás, à mesma família Onagraceae pertencem os apreciadíssimos e também americanos brincos-de-princesa.

As flores de Oenothera têm o hábito de só abrir pelo fim da tarde, e daí esse ar desgrenhado, quase pesaroso, que costumam apresentar. O nome que se lhes dá em inglês é evening primrose, traduzido aproximadamente por prímula-da-tarde. As duas espécies que exibimos atingem porte muito respeitável — cerca de metro e meio de altura — e estão amplamente disseminadas em Portugal. A Oenothera glazioviana é talvez a mais comum das duas, e distingue-se pelas flores maiores (8 cm de diâmetro contra 5) e, sobretudo, pelos cálices vermelhos (os da Oenothera biennis são verdes).

Outro pormenor em que se diferenciam é a origem. A O. biennis é nativa da metade leste dos EUA, enquanto que a O. glazioviana não o é de parte nenhuma: terá surgido por hibridação nalgum jardim ou viveiro europeu, e supõe-se que tenha sido introduzida no comércio hortícola em meados do século XIX. Por ironia do destino, foi igualmente comercializada na América do Norte; e, qual descendente de emigrantes que por um impulso atávico se instala na pátria dos seus antepassados, acabou também lá por se naturalizar.

3 comentários :

bettips disse...

Como lenços
pendurados como o dizem
mas
acenando.
Abç

Anónimo disse...

Por cá, gostamos de cantar uma música antiguinha já e graciosa por demais. Chama-se "Marambaia". Está cheia de brincos-de-princesa, que continuam a abrir,indiferentes e delicadíssimos, quando cai a tarde...

MARAMBAIA
(Henricão e Rubens Campos)
"Eu tenho uma casinha
Lá na Marambaia
fica na beira da praia
Só vendo que beleza

Tem uma trepadeira
Que na Primavera
Fica toda florescida
de brincos- de- princesa

Quando chega o verão
Eu sento na varanda
Pego o meu violão
E começo a tocar

E o meu moreno
Que está sempre bem disposto
Senta ao meu lado
e começa a cantar

Quando chega a tarde
Um bando de andorinhas
Voa em revoada
fazendo o verão

E lá na mata
o sabiá gorjeia
A linda melodia
de alegrar o coração

Às seis horas
O sino da capela
Toca as badaladas
da Ave Maria

A lua nasce por detrás da serra
Anunciando que acabou o dia..."

É mais graciosa quando se canta junto:

Mais recentemente, com a Maria Bethania
http://www.youtube.com/watch?v=ip46NzilOgM&feature=related

Ou, há saudosos tempos, com a Ellis Regina
http://www.youtube.com/watch?v=3v1ZPsoY85g

Abç,
Angélica Alves
Brasil

dsbarros disse...

Tenho verificado que essas plantas têm aumentado nos ultimos anos no vale do Lima. São observadas particularmente nos taludes mas já se alargaram às bermas de estradas municipais e terrenos incultos.Parabens pela informação disponível no blogue.