A cura amarela
De todas as cores do espectro cromático, julgar-se-ia ser a cor verde a mais fácil de reproduzir, por ser aquela que mais abunda na natureza. Tingir um tecido com a cor predilecta de Robin dos Bosques ou reproduzir na tela do pintor os variados tons da folhagem primaveril deveriam ser tarefas simples. Bastaria triturar e cozer grandes molhos dessa omnipresente verdura, e aplicar a pasta resultante às superfícies que quiséssemos colorir. Acontece que nem na natureza as cores são estáveis: as folhas amarelecem antes de cair, e as flores são de uma graça efémera, depressa tocada pela decadência. Reacções químicas imponderáveis ditam a evolução das tonalidades. O verde e as demais cores não se deixam agarrar facilmente.
A Reseda luteola, conhecida em português como lírio-dos-tintureiros, é uma erva peralta (1,2 m de altura), espontânea em Portugal e na Europa, que foi usada até ao início do século XX como corante amarelo para tecidos. Para se conseguir o verde, esse amarelo era combinado com o azul-anil extraído de uma planta da família das crucíferas: o pastel (Isatis tintoria). Foi assim necessário ao homem forçar uma aliança entre plantas evolutivamente muito distantes para reproduzir aquilo que é trivial na natureza.
A utilidade da R. luteola não se ficava pela tinturaria, pois as suas sementes fornecem um óleo outrora usado em iluminação. Não espanta por isso que ela tivesse sido amplamente cultivada noutras eras, e que com isso se tenha disseminado muito para além da sua região de origem. Agora que a modernidade faz com que lhe dispensemos os préstimos, há mesmo — nos EUA, por exemplo — quem a acuse de ser daninha.
Planta de terrenos baldios e de margens de caminhos, em Portugal a R. luteola encontra-se esporadicamente de norte a sul do território. Tem um interessante ciclo de vida bienal: no primeiro ano as suas folhas estreitas, de margens por vezes onduladas, dispõem-se em roseta basal; no ano seguinte, as mesmas folhas distribuem-se ao longo da haste florífera que só então é lançada.
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