18/07/2017

Novos embudes


Oenanthe lachenalii C. C. Gmel.



Quando os ribeiros emagrecem por falta de chuva é que os embudes engordam. Embude é nome vernáculo para uma das umbelíferas mais comuns em Portugal continental, a Oenanthe crocata, omnipresente em pequenos, médios e grandes cursos de água, e aventurando-se até em lugares de onde a humidade há muito se evaporou. Talvez a sua abundância se deva não apenas à grande produção de sementes mas também à toxicidade que os herbívoros, com um instinto desconcertante, aprenderam a evitar. Contudo, outros embudes do nosso território, como esta Oenanthe lachenalii, não souberam usar o veneno como arma de expansão, pelo que a sua escassez se explicaria por uma frutificação menos prolífera ou por uma menor versatilidade ecológica. A desfavor da segunda hipótese joga o facto de a O. lachenalii nada se importar com a salinidade da água, dando-se igualmente bem em água doce ou nas águas salobras de rias e estuários. A preferência por substratos arenosos acaba por limitar as suas escolhas de habitat, mas, apesar de esparsamente distribuída pelo país, não está de modo nenhum confinada ao litoral, como se vê pelo mapa de distribuição no portal Flora-On. Um dos nomes populares que a imaginação dos botânicos lhe atribuiu, bruco-de-Salvaterra, dá conta da sua existência nas margens alagadiços do Tejo, o que o dito mapa corrobora, embora obrigue a planta a saltar o rio de Salvaterra (na margem sul) para a Azambuja (na margem norte). Deverá o povo corrigir-lhe o nome para bruco-da-Azambuja? As plantas das fotos vivem não em Portugal mas na lagoa costeira de Vixán, um dos poucos lugares da Galiza onde a espécie está assinalada. Não sendo os galegos menos conhecedores da distribuição das raridades botânicas do que os portugueses, é de supor que lhe chamem bruco-de-Vixán.

A O. lachenalii distingue-se sem dificuldade da O. crocata por ser uma planta de menor porte (é raro ultrapassar os 80 cm de altura), por ter uma umbela mais compacta, e por apresentar folhas de lóbulos mais estreitos e compridos. Há porém duas outras espécies em Portugal (e em grande parte da Europa) com idênticas preferências de habitat que com ela se podem confundir: trata-se da Oenanthe fistulosa (que tem as folhas muito menos recortadas — veja-se aqui) e da Oenanthe globulosa (com inflorescências ainda mais compactas e menor número de frutos em cada umbélula — confira-se aqui). Encontrar qualquer uma das três espécies é um feito só ao alcance de quem esteja disposto a calçar galochas e não receie chafurdar em terrenos lodosos.

1 comentário :

bea disse...

Quase de certeza, não sou apanhada a encontrá-las; são águas pouco atractivas. Mas é bom saber que até os seres imóveis atravessam grandes distâncias. A natureza tem seus caminhos.