13/11/2004

Tília de Nuzedo


Foto: pva 0411 - Nuzedo

É em Nuzedo, aldeia de Vila Pouca de Aguiar situada a norte da sede do concelho, que fica este antigo apeadeiro da linha do Corgo. A linha ligava Régua a Chaves, mas desde 1990 que os comboios não vão além de Vila Real. O desmantelamento da rede ferroviária nacional, a partir da década de 1980, foi quase completo em Trás-os-Montes, com o encurtamento ou fecho da linha do Douro e de todos os seus ramais (linhas do Tâmega, Corgo, Tua e Sabor). Não teria sido impossível fazer circular, nas mesmas linhas, comboios modernos que assegurassem tempos de viagem razoáveis, mas o investimento público, com excepção das linhas suburbanas de Lisboa e Porto e do mirífico TGV, há muito que abandonou a opção ferroviária. Percorreu-se um caminho sem regresso: arrancaram-se carris, e os edifícios e as velhas máquinas foram deixados ao abandono; não houve sequer a lucidez de aproveitar turisticamente esse património.

Agora é moda transformar em ciclovias as antigas linhas ferroviárias. Com isso tranquilizam-se algumas consciências: afinal, não há meio de transporte mais ecológico do que a bicicleta. Esquecem que a extinção da ferrovia (ou a recusa em modernizá-la) exacerbou o trânsito automóvel, e que a bicicleta só será considerada opção normal de transporte quando for possível usá-la sem perigo nas mesmas estradas (exceptuando auto-estradas e vias rápidas, naturalmente) por onde circulam os restantes veículos. A ciclovia nada tem a ver com a bicicleta como meio de transporte: é puro entretenimento (muito agradável, por sinal).

Também a linha do Corgo entre Vila Real e Chaves há-de ser convertida em ciclovia de recreio: a ideia é levar a bicicleta amarrada ao tejadilho do automóvel, dar umas pedaladas para aquecer, e regressar a casa outra vez de automóvel. Este extracto de uma notícia de 2003 no JN sobre a projectada ciclovia não deixa dúvidas: «A ciclovia terá também uma particularidade: em alguns dos pontos poderão circular veículos de quatro rodas. (...) Nos espaços envolventes e edifícios das estações, (...) o projecto aponta para a instalação de pequenas pousadas, parques de campismo e estacionamento (...)»

Bom, chega de carpir e falemos das árvores na foto: esta magnífica e redondíssima tília, que faz do apeadeiro uma casa de bonecas, pode observar-se da EN 2, entre Vila Pouca de Aguiar e Pedras Salgadas; à esquerda na foto, junto à estrada, distinguem-se alguns altivos ciprestes (Cupressus spp.); e, à direita, uma cerejeira desgrenhada contrapõe a sua copa matizada de laranja ao amarelo uniforme da tília. É uma paisagem no auge da transfiguração: o Outono puxou da paleta e tingiu-a com a glória das suas cores efémeras.

8 comentários :

António Viriato disse...

Muito bem observado, quanto à fúria destrutiva das linhas férreas e das belas estações da CP, por esse interior desertificado do país, que, assim, ainda mais desertificado ficará ; coisa absurda, num país que, na sua máxima largura, ronda os 200 km ; quase se poderia dizer que não tem interior, antes é todo ele uma faixa litoral.

No que respeita à fotografia da mui esbelta tília, ficou uma maravilha e, por ser já corrente o excelente resultado de tanto zelo estético demonstrado, vou dispensar-me de fazer o merecido encómio das imagens em futuras intervenções.

Bom fim-de-semana. Bons passeios campestres.

Anónimo disse...

Que árvore belíssima!
galinhola

Anónimo disse...

Viva,

Belissima foto, belissima entrada!!!
Parabéns, parabéns, OBbrigado e mais uma vez obrigado!
Amanha no vistas na paisagem vou apropriar-me de parte da vossa sensibilidade e fazer um link para o dias com árvores!!!

JGOMES

Anónimo disse...

Ontem ameacei, hoje concretizei!
Nao resisti e acabei por copiar a foto!
Jgomes
Vistasnapaisagem

Anónimo disse...

A foto está lindissima mesmo... eu tenho a sorte de poder observar essa beleza todos os dias pois moro em frente a exa paisagem linda... a minha familia tem história nesse apiadeiro e para alguns familiares meus e triste verem o que outrora foi a sua vida transformado numa ciclovia que pouca gente usa...

Carlos Bastos disse...

Realmente uma das mais belas árvores que já vi. Tinha o prazer de ver este belo espécime da janela.
Até ontem.
A Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar abateu esta árvore com a desculpa de que se encontrava em mau estado e representava um risco para as pessoas que ali passavam. A verdade é que poucas pessoas ali passam, para justificar tal decisão. A câmara opta pela solução mais fácil, em vez de podar ou tratar esta árvore centenária.
Enfim... É a vergonha de um município que toma decisões sem consultar a população e que quando questionado se defende com a desculpa do perigo.
Infelizmente tomaram a decisão errada, pois mesmo ao lado está uma cerejeira centenária também, mas esta sim está completamente degradada e é um verdadeiro perigo, pois adultos e crianças procuram as cerejas e correm o risco de cair devido à facilidade com que os ramos se partem. Raros são so dias de vento em que não caem ramos desta cerejeira.
São as decisões que temos, numa vila em que o mais fácil é opção, em vez da tentativa de recuperação.

Paulo Araújo disse...

Triste notícia essa do abate da tília. Uma árvore notabilíssima como essa merecia de facto que se fizessem esforços para a salvar - por exemplo, escorando-a com cabos para diminuir o risco de queda. Eça de Queirós disse que tirando Lisboa Portugal é só paisagem, mas parece que nem à paisagem temos direito.

Anónimo disse...

Sou habitante de Nozedo e era só para informar que esta grande riqueza que "tinhamos" alguém se lembrou de a deitar abaixo....... lol