21/03/2006

Árvores com histórias: a "árvore grande" de Alijó

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«A "Árvore Grande" é um pedaço da alma de Alijó»
Por Nuno Amaral (textos) e Nelson Garrido (fotos) no Público de hoje

«O orgulho no plátano, mandado plantar há 150 anos, está espelhado no mais ínfimo pormenor da comunidade. No Dia Mundial da Floresta, câmara e freguesia convidam as crianças do concelho a plantarem 150 plátanos.

Sentada na borda da lareira, Maria Laura Rodrigues vai desfiando as memórias da "Árvore Grande". Conta a "balbúrdia" que Alijó viveu há pouco mais de 50 anos, quando o boato que corria anunciava o fim do plátano. "Dizam que o iam cortar para fazer socos", solta, por entre sorrisos. O povo não gostou. E o rumor deu mesmo azo a uma peça de teatro, como que para afastar os demónios. Maria Laura teria uns 16 ou 17 anos. A mãe, enfatiza, ainda serviu na casa do visconde de Alijó, o homem que mandou um servente, António Pela-Gatos, deitar a semente à terra. Agora, aos 70 anos, recorda os tempos em que as "notícias" circulavam debaixo dos ramos do plátano. "Aquilo sempre foi um ponto de encontro, era o centro da vila", afina.
Na véspera do Dia Mundial da Árvore, Graciano Ferreira olha para a escultura que a câmara e a junta de freguesia hão-de descerrar hoje. A lápide ainda está tapada. Há um novo banco de madeira debaixo das ramadas. Um feixe de luz há-de iluminar-lhe o tronco.

"Então não namorei? Eu e todos. Houve aqui muitas declarações de amor", esclarece. Hoje, aos 65 anos, é menos "maroto". "Ah, mas naquela altura, era, lá isso era."
O simbolismo do ancestral plátano está em cada pedaço de Alijó, no coração do Alto Douro vinhateiro. Todos lhe conhecem a história. Todos lá viveram um pedaço da infância. À entrada da vila, pelo sul, quem vem de Pinhão, está a Escola de Condução Plátano. Na avenida central, o Café Plátano. A árvore ilustra porta-chaves, faz parte dos panfletos de promoção turística. Criou uma rota própria. A "Árvore Grande", no léxico local, é mesmo o símbolo da Junta da Freguesia de Alijó. "É um pedaço da alma desta vila", classifica o autarca Alípio Alves. Tanto assim é que a comemoração dos 150 anos do plátano era um dos pontos do manifesto eleitoral do socialista. "E, se o tempo ajudar, amanhã [hoje] é cumprido", regozija-se.

Festa para todos ao final da tarde
Para que a homenagem também singre na terra, os alunos das escolas do concelho plantam 150 plátanos a poucos quilómetros do centro da vila. "Ao final da tarde, teremos um momento de poesia e um lanche aberto a toda a população, porque a "Árvore Grande" é de todos", sublinha o presidente de câmara, Artur Cascarejo.
Foi junto ao local onde havia de nascer a árvore que a mãe da Maria de Laura conheceu o visconde de Alijó. Uns anos depois, já a mãe de Laura trabalhava na casa senhorial, o visconde mandou plantar a árvore. Porquê, nunca se soube. Mais tarde, o local onde o plátano já ganhava corpo, e um simbolismo próprio, deixou de integrar a quinta dos "senhores". A passagem era estreita e o filho do visconde deu mais um pedaço de terra.
Hoje, ao final da tarde, Maria Laura há-de sentar-se nas imediações da árvore a ouvir poesia e a saborear uma vitela. "Já há 50 anos lá estive. Foi quando puseram a placa dos cem anos."


A "Árvore Grande" cresceu e resistiu. A placa ainda hoje avisa o viajante. Ou "viandante", como escreveu o antigo inspector escolar Mira Saraiva. Na súplica que lavrou, o plátano faz um pedido aos visitantes: "Tu, que passas, olha-me bem e não me faças mal". »

Ler a propósito: Plátano de Alijó (17.10.05) ; PLÁTANO COMPLETA 150 ANOS

2 comentários :

Anónimo disse...

Que boa história. Adoro histórias de árvores ;-)
Mas um reparo e corrijam-me pf se me engano:
«O orgulho no plátano, mandado plantar há 150 anos» poderá estar «espelhado no mais ínfimo pormenor da comunidade» mas isso não se reflecte de modo algum no site da Câmara onde não consigo vislumbrar nenhuma fotografia do dito!

Anónimo disse...

Os Alijoenses so se lembram daquilo que tem, quando é para fazer festas.
Eu estudei varios anos em Alijo e nunca me lembro de qualquer culto especial em relação a esta arvore.
Enfim, se se deixassem de festas e começacem a trabalhar em prol do concelho e das freguesias que o compoem é que faziam bem