20/06/2017

Na pista da Pistorinia


Pistorinia hispanica (L.) DC.


Às vezes dá ideia que a fronteira luso-espanhola foi desenhada com o único intuito de nos espoliar de plantas interessantes. O roubo de Olivença, empurrando a linha fronteiriça uns quilómetros para oeste, foi tavez planeado para que alguma planta até então também nossa deixasse de existir em território português. Infelizmente, estão por estudar as motivações botânicas nas disputas territoriais entre estados vizinhos. Numa época de fronteiras abertas, em que as maiores diferenças entre cá e lá são as matrículas dos automóves e a dificuldade em encontrar um restaurante que nos sirva sopa, não é este um tema de pesquisa que atraia muitos eruditos. Podemos sem dificuldade visitar essas plantas que nos foram negadas, mas ainda dói pensar que não são nossas. Nessa partilha tão desigual, há géneros botânicos (como Sempervivum, Androsace e Petrocoptis) bastamente representadas na Península (cada um com pelo menos meia dúzia de espécies) que estão tristemente ausentes da flora portuguesa.

É assim motivo para moderado regozijo saber que a Pistorinia hispanica é também portuguesa, embora só saibamos dela na margem direita (a nossa) do Douro internacional, e em tão escasso número (vimos umas dez plantas em flor) que a sua futura permanência por cá é incerta. A sua preferência por margens arenosas de rios explica o seu gradual desaparecimento por perda de habitat. Em Portugal não há grande ou médio rio que esteja livre de barragens, e é pouco provável que a Pistorinia ainda exista, como reportava Franco na Nova Flora de Portugal, no Tejo ou no Sabor. Neste último, com o recente enchimento da barragem, as margens e as plantas que lá viviam foram afogadas numa extensão de 40 Km.

O número de espécies de Pistorinia é incerto: estão descritas umas seis, mas alguns nomes são tidos como sinónimos. Confirmadas (e documentadas com fotos nesta página) estão três espécies distribuídas entre a Península Ibérica e Marrocos; a que nos ocupa é um endemismo ibérico. Todas elas são plantas anuais carnudas, de porte erecto e baixa estatura (a P. hispanica não excede os 20 cm de altura), com flores tubulares dispostas em cimeiras. A decoração extravagante das "pétalas" — ou, mas precisamente, dos segmentos terminais em que a corola se divide — é a marca mais distintiva da Pistorinia hispanica: sobre um fundo rosa choque, traçam-se a vermelho três riscos paralelos, rematados por uma mancha também vermelha como se a flor pintasse as unhas.

1 comentário :

bea disse...

É que são extravagantemente bonitinhas as pistorinias de baixa estatura. As plantas também não se medem aos palmos, está visto. E oxalá mantenham o habitat português.