18/03/2006

Grandeza e graça


Casa da Ínsua, Março de 2006. Lago com jarros-de-jardim (Zantedeschia aethiopica) e rua do buxo

Na Casa da Ínsua há várias ruas que não são requalificadas há duas centenas de anos. Um «desleixo» que os poderosos-de-pequena-arte não deixariam medrar mas que muito apreciámos na nossa recente visita a esta quinta.

Numa carta de 1909, transcrita por Sousa Viterbo em A jardinagem em Portugal (1909), o então proprietário da Casa da Ínsua, Manuel de Albuquerque, descreve em detalhe alguns desses caminhos: «As principaes ruas têem 4m,40 (4 varas) de fórma que pódem ser percorridas facilmente de carruagem. Essas ruas são todas arborizadas, sendo as mais notáveis uma rua de buxo, formando abobada, plantada em 1775, com 300 metros de comprimento em linha recta, uma de Cedros do Bussaco, provavelmente da mesma data, uma de Palmeiras, uma de Avelleiras e outras de Carvalhas.»

E Ílidio Araújo, em Quintas de recreio (1974), acrescenta: «Os arruamentos das matas, formando extensas galerias de belíssimo efeito, são conhecidos por nomes diferentes, na sua maior parte nomes das senhoras da família e das relações do proprietário (...). Uma das mais belas ruas é a chamada Camila de Faria, numa extensão de 340 metros. É toda guarnecida de Cupressus glauca, cujos troncos apresentam uma altura de 50 metros, e uma circunferência na base de 3,70m.»

Juntemos-lhes a Rua Emília, a Rua Laura, a Rua Luísa e a Rua Maria, ornamentadas por monumentais exemplares de Laurus nobilis, Populus pyramidalis ou Eucalyptus globulus, sem uma rotunda para embalar o trânsito ou um viaduto para o fazer voar, e temos um cenário de pesadelo para os arautos do progresso cimentado e alcatroado. Que o Portão da Sereia da Casa da Ínsua nunca saúde tais convidados.

[Citações extraídas do livro Jardins com História, editado por Cristina Castel-Branco]

2 comentários :

Anónimo disse...

Foi com grande emoção que vi estas fotografias lindas do "lago dos tijolos" (junto da rua Luisa) e da rua dos Buxos, da Casa da Insua, onde durante tantos e tantos anos passeei, meditei, gozei. É incrível como tudo me pareceu de repente novo e brilhante, com a luz a iluminar recantos de que a minha memória já tinha despedido... Muito obrigada por este recordar de tão dôces verdes...!

Anónimo disse...

Estando as camélias da Casa da Insua referenciadas há muitos anos no site da International Camellia Society, decidiu a Sociedade Internacional das Camélias-Portugal organizar uma visita aos jardins deste lindíssimo solar da Beira Alta. E, num primaveril sábado de Março lá fomos maravilhar-nos com tantas camélias, com tanta cor, com tanta beleza! A visita (habitualmente prevista para 45m) prolongou-se por mais de 2 horas, pois, cada camélia, cada árvore, cada alameda,cada pedra, era observada, examinada, fotografada, conversada.
A visita às camélias da Beira Alta (também fomos vê-las a Santar)foi um dos pontos altos do programa da ICS-Portugal.