08/04/2014

Erva-toira divergente


Orobanche ramosa L.


Erva-toira é o nome que em português se dá às ervas parasitas do género Orobanche. São plantas sem clorofila que se agarram às raízes do hospedeiro para dele extraírem o necessário sustento. Certamente indesejáveis pelos agricultores quando se instalam em terrenos cultivados, o seu contributo para o ciclo da vida é apenas estético. A sua floração — as ervas-toiras só se tornam visíveis quando estão em flor — pode ser muito vistosa e atraente, atingindo o auge com a Primavera já adiantada. A planta parasitada não fica mais vigorosa por acolher tais hóspedes, mas é provável que fique mais bonita.

A Orobanche de hoje leva muito apropriadamente o epíteto ramosa no seu nome científico. O mesmo adjectivo é usado no nome comum, ficando ela a ser a erva-toira-ramosa. Muito mais do que a forma e coloração das flores, que são algo variáveis e a um olhar menos treinado se confundem com as de outras espécies como a O. arenaria e a O. rosmarina, é a presença frequente de caules ramificados (como o que se vê na segunda foto) que singulariza esta planta entre as suas congéneres. A O. ramosa apresenta hastes pouco robustas mas pode atingir um porte considerável, chegando aos 50 cm de altura, embora certas formas da espécie se fiquem pelos 10 ou 20 cm. Amplamente distribuída por quatro continentes (Europa, Ásia, África e América), o seu cosmopolitismo ensinou-a a não ser esquisita nos hábitos alimentares, e qualquer planta espontânea ou cultivada lhe serve de hospedeira. Em contraste, muitas outras espécies de Orobanche exigem dieta específica: a O. arenaria é parasita exclusiva da madorneira, a O. hederae só gosta de hera, a O. latisquama e a O. rosmarina são ambas fiéis ao alecrim.

Além dos caules ramificados ou divergentes, uma outra divergência, esta envolvendo botânicos de nomeada, está ligada à Orobanche ramosa. A publicação em 2001, no vol. XIV da Flora Ibérica, da revisão do género Orobanche, preparada pelo botânico inglês Michael J. Y. Foley, suscitou controvérsia pelas lacunas corológicas e várias outras imprecisões de que enfermava. Tanto assim foi que Manuel Laínz, um dos grandes botânicos espanhóis, publicou em 2002, em conjunto com outros autores, uma monografia de 27 páginas (disponível aqui) denunciando e corrigindo os erros. O primeiro ponto de discórdia foi precisamente a distribuição da O. ramosa, que Foley, desvalorizando informação corológica publicada pelos seus predecessores, afirmava erradamente não existir no noroeste da Península Ibérica.

Foi contudo bastante mais a sul, no litoral de Cascais, numa visita que por prematura não nos permitiu encontrar o que queríamos, que fotografámos esta erva-toira-ramosa, já florida no início de Março.


Cascais, perto da praia do Abano

2 comentários :

bea disse...

A plantinha ficou muito bem tirada. Tão suaves os verdes montes de Cascais!

ZG disse...

Bela planta e mais um post interessantíssimo!