29/04/2014

Lanuda e cosmopolita


Pseudognaphalium luteo-album (L.) Hilliard & B.L.Burtt


O problema mais sério para uma planta como esta, para quem todo o mundo é a sua casa e que não hesita em instalar-se em bermas de caminhos e jardins abandonados, é que muita gente se arroga o direito de lhe dar nome. Presente em todos os continentes habitados, e nativa de todos eles com possível excepção das Américas (onde, em qualquer caso, está naturalizada), esta erva anual de sítios frescos e algo degradados, primeiramente baptizada por Lineu em 1753 como Gnaphalium luteo-album, recebeu até hoje quase duas dezenas de nomes científicos. A somar às discordâncias taxonómicas há a magna questão do hífen, que duplica de uma assentada o número de possíveis designações: deverá ser luteo-album ou luteoalbum? Na dúvida aceitam-se as duas formas. Os géneros botânicos onde foi sendo sucessivamente arrumada totalizam sete: além de Gnaphalium e Pseudognaphalium, contam-se ainda os géneros Helichrysum (H. luteoalbum), Filaginella (F. luteoalba), Chrysocoma (C. villosa), Dasyanthus (D. conglobatus) e Laphangium (L. luteoalbum). O último nome da lista, da autoria do botânico russo Nikolai Nikolaievich Tzvelev, é também o mais recente, datando de 1994, e tem a graça de ser um anagrama do nome lineano. A brincadeira não é porém inédita, já que Phagnalon — o alecrim-das-paredes — é quase um anagrama de Gnaphalium. Nesta altura afigura-se-nos prematuro declarar qual dos géneros sairá vencedor, mas os três competidores mais fortes, cada um deles apoiado por autoridades de peso, são Pseudognaphalium, Helichrysum e Laphangium.

Dizem os manuais que a erva-cotoneira, como talvez seja chamada na nossa língua, pode atingir os 40 cm de altura e floresce de preferência com a Primavera já adiantada. A nossa experiência de campo, que no caso até foi adquirida nas ruas da cidade do Porto, não confirma essas asserções. As plantas que se instalam em caldeiras de árvores ou entre as pedras das calçadas não excedem os 10 cm de altura; e, mais do que obedecer ao calendário, importa-lhes florir e frutificar antes que venham arrancá-las, num contra-relógio vital que pode ter lugar em qualquer ocasião entre Março e Outubro.

3 comentários :

ZG disse...

Bela planta! Realmente é pena existir sempre tanta aversão em relação às plantas que nascem espontaneamente enre nós...

bea disse...

Chamo-lhe erva e não me apraz.

Teresa Maria Jardim de Freitas disse...

Gostei muito de ler o seu artigo - a questão dos nomes das plantas (científicos ou comuns) fascina-me sempre. Sobre esta singela mas elegante plantinha, já me deparei com os seguintes nomes comuns: perpétua-dos-charcos (no site Flora-on) e perpétua-silvestre, certamente por preferência da designação Helichrysum luteo-album. Pergunto-me qual será o nome comum em uso na Madeira.