27/03/2006

Camélias são notícia

«"O perfume delas é talvez a cor", escrevia o poeta Pedro Homem de Mello a propósito das camélias. Planta de origem distante, prefere a sombra à luz da manhã, que povoa os jardins públicos e privados do Porto desde há muitas décadas. Em largos períodos do século XX, marcado pela guerra, perdeu admiradores e o título de "rainha". Mas está de volta e recupera o prestígio perdido - a beleza, essa, nunca a perdeu. (...)
Na cidade do Porto, contrapunha o autor de Guia do Viajante , toda a gente conhecia estas flores. Toda a gente as oferecia. No Porto havia José Marques Loureiro, horticultor e jardineiro multiplicador, que na Quinta das Virtude, na Rua dos Fogueteiros, possuía uma imensa colecção de camélias. Num catálogo, Loureiro afirmava que no seu viveiro, além de outras espécies, podiam encontrar-se mais de 750 variedades de primeira ordem. "A nossa colecção não tem rival em Portugal e na Península", garantia, com orgulho, o horticultor e jardineiro multiplicador.
Além do viveiro na Quinta das Virtudes, no finais do século XIX, Alberto Pimenta aconselhava ao viajante de passagem pelo Porto que, se pretendesse contemplar outra colecção de assinalável qualidade, visitasse a quinta do "senhor visconde de Vilar Allen".
Mais de um século depois, a Quinta de Villar d'Allen - porque as camélias "preferem florir em sítio onde possam escutar o murmúrio do agreste e às vezes melancólico Douro - continua a ser uma referência para os admiradores dos arbustos e árvores que, como as magnólias, escolheram o fim do Inverno para exibirem as flores de diversas cores: desde a brancura plena ou mais rubro dos rubros.

E esse ressurgimento da imensa colecção de camélias, nos jardins e no bosque da quinta, junto ao Palácio do Freixo, deve-se à paciência de Isaura Allen. Tudo começou com uma dúvida: há sete anos, Isaura visitou uma exposição de camélias no Mercado Ferreira Borges, no Porto, e a dada altura o nome de uma das flores expostas era-lhe verdadeiramente familiar: "Camélia Alfredo Allen". De volta a casa, Isaura Allen percorreu o jardim e o bosque à procura da árvore. Aprofundou a pesquisa e descobriu que o nome Allen aparecia associado a outras camélias - variedades criadas e apuradas por familiares remotos. Isaura Allen, que ainda não conseguiu identificar todos os exemplares da colecção existentes na quinta, alargou agora a pesquisa e pretende fazer um levantamento das restantes camélias portuguesas.

"Há inúmeras camélias nascidas no Porto, criadas no Porto, são portanto um património da cidade que terá de ser preservado", (ver um exemplo) sublinha Isaura Allen, que insistiu com a autarquia portuense para voltar a expor as flores, como noutros tempos, no Mercado Ferreira Borges. O futuro da árvore de folha luzidia, acredita , parece agora garantido. "Há um reviver da jardinagem e do culto da camélia.
"Associada a critérios de elegância e aristocracia - como lembram Veiga Ferreira e Maria Celina, em O Mundo da Camélia -, perdeu muito da sua popularidade pelos fins século XIX . Mesmo assim, soube iludir a crise, o esquecimento: "Nada a fez desistir de florir entre as ruínas de castelos, casas solarengas e jardins de casas antigas." »



4 comentários :

azuki disse...

Foi este fim-de-semana, em Celorico, que me apaixonei por camélias. Irremediavelmente.

Álex disse...

Em relação ao post de dia 24: há 1 dragoeiro enorrrrme (maior que o da foto que postaram dos Açores) na Quinta da Carreira em S. João do Estoril, inclusivé tem um placard com referência ao Decreto-Lei que o destaca como espécie protegida ou de interesse... qualquer coisa (sorry pela info tão difusa, já não me recordo sequer do nome da rua e vivi lá...)

Anónimo disse...

Será que há camélias bonsai? Gostaria de saber informações sobre como fazer bonsais.Fico a aguardar e agradeço desde já.

Paulo Araújo disse...

Não tenho exeperiência com bonsais, mas certamente que há camélias bonsai (até já as vi à venda numa pequena florista da rua Formosa, entre as ruas Sá da Bandeira e Bonjardim). Por que não aparece sábado ou domingo na exposição do Ferreira Borges? Alguns dos expositores podem ter experiência no assunto.