16/02/2006

"Augusto Leal de Gouveia Pinto"


Foto: pva 0602

De ascendência ilustre - a mãe é a famosa "Mathotiana Rubra", de vistosas flores encarnadas - e nascida, corria o ano de 1953, em berço de ouro - no famoso viveiro portuense de Alfredo Moreira da Silva & Filhos - esta camélia, de seu nome "Augusto Leal de Gouveia Pinto", estava predestinada a grandes feitos. As suas flores, tais como as da mãe, são grandes e dobradas, com as sucessivas camadas de pétalas abrindo-se num arranjo de simetria perfeita; mas, em lugar do vermelho tinto uniforme da "Mathotiana", as pétalas exibem uma suave gradação rosa-lilás, rendilhada por venação mais escura e rematada por bordadura branca.

A "Augusto Leal de Gouveia Pinto" é a nossa eleita como Imperatriz das Camélias - pois, sendo já toda e qualquer camélia rainha do Inverno, a mais bela não podia ser menos que imperatriz. Quando pela primeira vez a admirámos ainda ela para nós uma camélia anónima, e nem a sabíamos portuense de origem; mas logo foi evidente que o título honorífico lhe pertencia de direito. E, para aniquilar de vez a suspeita de bairrismo nesta distinção, quando na verdade qualquer juiz imparcial a corroboraria, saiba-se que a "Augusto Leal" foi uma das 200 plantas notáveis (e uma das duas únicas camélias) escolhidas em 2004 por uma comissão de peritos da Royal Horticultural Society para celebrar o bicentenário da instituição.

Como é de regra com todos os portugueses (e portuguesas) que vencem lá fora, está na hora de a Pátria reconhecer pressurosamente o excelso mérito desta camélia portuense. Há o óbice de ela ser difícil de encontrar nos viveiros (nem sequer a firma Moreira da Silva a tem à venda); mas quem simplesmente a quiser admirar pode fazê-lo em muitos dos nossos jardins: no Palácio de Cristal (no canteiro à esquerda da entrada); na Casa das Artes (onde a foto em cima foi tirada); no Parque de São Roque (junto à casa); no jardim da Fundação Eng. António de Almeida; e no Parque de Serralves (jardim central).

A natureza, obedecendo ao sábio preceito de guardar o melhor bocado para o fim, determinou que a floração da Imperatriz das Camélias fosse tardia: começa em Fevereiro, quando outras variedades já encerraram a temporada, e prolonga-se até Abril.

15 comentários :

Anónimo disse...

Que beleza.
"Augusto LeaL Gouveia Pinto" Que nome para uma flor tão bonita!
A Augusta, a Leal, até mesmo a Gouveia, a Pinto, mas A L G P! Quem foi este "pai"? O horticultor que a concebeu?
S. (de Sementinha ;-)

Anónimo disse...

Aqui estava ela, de manhã, purple-rose,à primeira luz do nascente. Carros e gente lá fora, correndo para os seus trabalhozinhos indispensáveis à economia. A Camellia Japonica, menina quando eu era menina, no ex-horto (em frente ao Museu Soares dos Reis?) disse-me bom dia e eu acreditei! Os "santinhos" ingleses deram-se ao trabalho de escolher 200 flores
para 200 anos e a "nossa" está lá, porque é bela e diferente. Que felicidade! EP

Paulo Araújo disse...

Pois é, EP, os ingleses têm olho para estas coisas. Deve ter sido mesmo na rua D. Manuel II, onde hoje existe aquele horroroso edifício do Cristal Park, que nasceu esta camélia. Chegaste-a a ver lá? (Para grande pena minha, confesso que nunca entrei no horto, e agora é tarde.)

Quanto ao nome, realmente não é dos mais eufónicos e não favorece a internacionalização (mas isso não desculpa os americanos, que lhe chamam "Jack McCaskill", como se eles a tivessem criado). Mas havia o hábito de os viveiros baptizarem as suas criações com o nome dos seus clientes: há também uma camélia "Dona Herzília de Freitas Magalhães" e outra "Jane Andresen".

Anónimo disse...

Obrigado por esta informação tão saborosa. Vou já ver as que estão no jardim do Palácio.

Paulo Araújo disse...

Já agora, no Palácio ela está realmente no canteiro da esquerda, mas mais próxima do Pavilhão Rosa Mota, na extremidade mais afastada da entrada, meio escondida pelos outros arbustos.

Anónimo disse...

No ano passado na Casa das Artes estavam ainda em flor em fins de Maio! Tenho provas disso ;-). É realmente uma camelia belissima!

Anónimo disse...

está ao lado da caneleira?

Maria Carvalho disse...

A «Augusto Leal de Gouveia Pinto» fica no canteiro à esquerda para quem está à entrada do Palácio a olhar para o Pavilhão (extremo sul do canteiro leste). Creio que a caneleira a que se refere está à direita da entrada.

Já agora, junto a esta caneleira está uma outra japoneira famosa, a «Impératrice Eugénie», que é ligeiramente perfumada.

E na cerca do Palácio, um pouco abaixo do portão principal, está uma mamã «Mathotiana rubra» que parece um pote de flores.

Rosa disse...

Lembro-me de visitar os viveiros de Alfredo Moreira da Silva quando era muito pequenina, nessa altura tinha por estranho hábito pôr as flores dentro dos olhos, sim isso mesmo dentro dos olhos!!! O que me causava imensas alergias e fazia com que tivesse que ser cuidadosamente vigiada quando estava perto de qualquer tipo de flor, a verdade é que vigiada ou não nunca esqueci esta visita aos viveiros do Porto em que me apercebi que havia pessoas para quem as flores eram algo realmente importante.

Anónimo disse...

Eu enganei-me e quando perguntei se estava ao lado da caneleira deveria ter tido mais atenção e memória e ter escrito coraleira e não caneleira. É o que dá ser um curioso eventual e não um conhecedor. Obrigado pela correcção da informação que aqui me prestaram.

Maria Carvalho disse...

Ah, sim, está junto à coraleira!

Anónimo disse...

Que bom todo este deslumbramento com as camélias! Aproveito para informar que existe a International Camellia Society (ver site) que está representada em Portugal. Para informações contactar a Directora da ICS (Portugal, E-mail: claragildeseabra@tvtel.pt ou a Representante dos Membros, Maria Augusta Alpuim, E-mail: calpuim@netcabo.pt. Têm razão ao dizer que Villar d'Allen (villardallen.com) deveria pertencer aos jardins escolhidos pela ICS. Também poderão visitar a Quinta de Santo Inácio em Fiães, Avintes, com mais de cem variedades portuguesas e estrangeiras, aberta ao público excepto às segundas-feiras. Para Santo Inácio podem contactar-me: jandresenguedes@gmail.com. De lá (antiga Quinta de Fiães) sairam numerosas variedades portuguesas, e como disse José Marques Loureiro no Jornal de horticultura Prática nº 13: "Para o Porto as primeiras camélias vieram aí por 1808 a 1810, encomendadas pelo Snr. Van Zeller (dono da Quinta de Fiães)e outros distintos amadores...". Há ainda outro artigo intitulado "Fiães, Eden das Camélias" na mesma revista, vol. 23. É um verdadeiro Paraíso das Camélias, um parque de camélias oitocentistas único em Portugal. Desde 1900 não foram lá plantadas novas variedades, as que existem são filhas e netas das antigas!

Comissão Concelhia do CDS-PP de Mondim de Basto disse...

Augusto Leal de Gouveia Pinto, nasceu na sua Quinta da Godinhela, em Miranda do Corvo, a 11.5.1848, e morreu na Casa dos Moura e Mendonça, no Sardoal, a 14.2.1900, tendo casado a 23.6.1876 com D. Constança Augusta Pinto e Cerqueira Pereira ( 1851 – 1906), dela tendo deixado geração. Era um entusiasta tratador das japoneiras do seu jardim, tendo sido ele a cruzar exemplares que resultaram neste híbrido que mais tarde conservou o seu nome.
João Alarcão

Blogão disse...

Boa tarde João Alarcão. Vejo que sabe algumas informações referentes à minha família!.Eu sou 3º neto de Augusto Leal de Gouvêa Pinto e de sua mulher, a referida Constança Augusta Pinto e Cerqueira Pereira. Gostaria de saber mais informações referentes a esta Camélia por ele criada. Obrigado.

Pedro Costa Pinto

pedrocostapinto@portugalmail.pt

Luís Tinoco disse...

Aqui fica uma imagem do jardim (em Godinhela / Miranda do Corvo) com as cameleiras (originais) criadas por Augusto Leal de Gouvêa Pinto:

http://dl.dropbox.com/u/18636489/Quinta_da_Cheira_Godinhela.JPG