05/02/2006

A última Primavera

Da meia-dúzia de árvores que sobreviveram à construção da nova Faculdade de Ciências do Porto, iniciada na década de 1990, este par de ulmeiros - que bem pode ser uma única árvore com dois troncos - é o que mais bem combina com as linhas do edifício, formando, com as camélias à sua frente, um esbelto mas assimétrico arco que acolhe quem entra no recinto pela rua das Estrelas. Um arco que, receio-o, não se vai recobrir de verde na próxima Primavera, pois, atingidas talvez pela terrível doença que, desde meados do século passado, tem dizimado os ulmeiros em toda a Europa e América do Norte, as árvores parecem ter secado. Para outro exemplo aqui perto, em poucos anos morreram quase todos os ulmeiros numa cidade, Aveiro, onde eles eram das árvores mais comuns em jardins e arruamentos.

O verde pálido e esparso que se observava nas árvores em Março de 2005, e que nem sequer ocultava os farrapos de nuvens, era formado, não pelas folhas então ainda por rebentar, mas pelos frutos quase translúcidos em forma de sâmara. Quando maduros, em Abril, os frutos ganhariam coloração acastanhada.

A doença dos ulmeiros já foi tema de filme: em As virgens suicidas (2000), filme de estreia de Sofia Coppola, são as árvores que, morrendo primeiro, mostram o caminho às cinco protagonistas. Mas às árvores como símbolos ou mensageiras prefiro as árvores testemunhadas por quem tem por elas verdadeira empatia, como W. G. Sebald (1944-2001), escritor alemão radicado em Inglaterra:

«Dutch elm desease spread from the south coast into Norfolk around 1975, and within the space of two or three summers there were no elms left alive in the vicinity. The six elm trees which had shaded the pond in our garden withered away in June 1978, just a few weeks after they unfolded their marvelous light green foliage for the last time. The virus spread through the root systems of entire avenues with unbelievable speed, causing capillaries to tighten and leading to the trees' dying of thirst. Even solitary trees were located with infallible accuracy by the airborne beetles which spread the disease. One of the most perfect trees I have ever seen was an almost two-hundred-year-old elm that stood on its own in a field not far from our house. About one hundred feet tall, it filled an imense space. I recall that, after most of the elm trees in the area had succumbed, its countless, somewhat asymmetrical, finely serrated leaves would sway in the breeze as if the scourge which had obliterated its entire kind would pass it by without a trace; and I also recall that barely a fortnight later all these apparently invincible leaves were brown and curled up, and dust before the autumn came.»

The Rings of Saturn (1995; trad. Michael Hulse 1998)

1 comentário :

Anónimo disse...

Aviso aos interessados: há um sítio bonito - mas triste - onde são listadas espécies em vias de extinção: www.redlist.org