25/02/2014

Ervas da luz


Luzula lactea (Link) E.Meyer
Conta-se que o nome Luzula, estabelecido pelo botânico suíço Augustin Pyramus de Candolle (1778-1841) para acolher umas tantas espécies que Lineu arrumara no género Juncus, provém do italiano erba lucciola, que significa erva-pirilampo. Parece estranho aplicar-se tal nome a umas ervitas de flores discretas, muitas vezes escuras ou mesmo negras, mas a história é rebuscada: o que brilha, ainda por cima à luz da lua, é a penugem branca das folhas ao ser aspergida pelo orvalho nocturno. Quando chega o dia e se extingue o mistério das estrelas, também a Luzula, qual verdadeiro pirilampo, se remete ao mais baço anonimato.

Só que, sabendo que os admiradores de plantas e de flores não têm em geral o hábito de se dedicar a tais contemplações pela noite fora, nem todas as luzulas se conformam com o apagamento diurno. Para complementar a vermelhíssima e açoriana L. purpureo-splendens, eis outra Luzula, desta vez continental e ibérica, que resolveu singularizar-se pela cor da floração, optando por um branco leitoso, de um leite já algo coalhado. As inflorescências, erguidas no topo de hastes com 30 a 70 cm de altura, são compostas por uns tantos glomérulos, cada um deles formado por 10 a 20 flores.

A Luzula lactea, que floresce no Verão em solos ácidos e pedregosos de montanha, e é especialmente abundante em zonas recém-queimadas, é um endemismo ibérico restrito ao centro e ao noroeste da península. Várias obras de referência (entre elas a Nova Flora de Portugal de Franco & Rocha Afonso) sustentam que a espécie também ocorre na ilha do Pico, nos Açores, mas tal informação não é corroborada por nenhuma listagem recente da flora açoriana.

2 comentários :

bea disse...

Tais cachinhos leitosos, a enfeitar cabelos, iam fazer furor.

Anónimo disse...

Conheci 2013 a Luzula lactea, a dar um toque de novidade nuns matagais de carqueja. Com as plantas, a qualquer momento podemos ser surpreendidos. :)

ACarapeto