23/06/2005

Desenhada para pássaros



Erythrina crista-galli no Jardim da Cordoaria

As árvores e arbustos do género Erythrina, da família Leguminoseae, são de identificação fácil na presença das folhas pois estas são tipicamente trifoliadas, com pecíolo central mais longo e uma manguinha em cada folíolo. Os ramos são numerosos, hirtos, nodosos e, enquanto jovens, cobertos de espinhos.

As flores nas cerca de 120 espécies, endémicas de áreas tropicais e subtropicais, exibem uma interacção fascinante com os diferentes pássaros que actuam na polinização: em algumas zonas asiáticas secas, os estames são longos e duros servindo como poleiros de onde o pássaro se alimenta e dessenta com o néctar, que é aquoso; noutras as pétalas são tubulares, como palhinhas de beber, adaptadas a colibris de bico longo; noutras ainda as flores, voltadas para dentro, parecem colheres de chá de onde o néctar goteja para delícia de pardais inquietos.

A designação científica deste género, do grego erytrhós, alude à cor geralmente vermelha das flores. Os epítetos das espécies têm história mais divertida, que causou confusão considerável na literatura botânica. A espécie de folha variegada (verde com veios amarelos) foi a primeira a ser conhecida e a ser nomeada: passou a chamar-se Erythrina variegata. As formas não-variegadas que foram descobertas posteriormente, de início consideradas de outra espécie, receberam o nome Erythrina indica. Quando ficou claro que na verdade se tratavam de variedades de uma mesma espécie, houve que ajustar as designações científicas. Seguindo a regra que dá precedência ao nome mais antigo, E. variegata sobreviveu como a designação da espécie, passando a haver E. variegata var. indica e E. variegata var. variegata...

Os exemplares das fotos vegetam no Jardim da Cordoaria (E. crista-galli, antes E. pulcherrima) e no Jardim Botânico do Porto. Há outros igualmente vistosos no Palácio de Cristal e num jardim particular do bairro do Campo Alegre. Mas no Porto a mais deslumbrante E. crista-galli (espécie da América do Sul, que prefere climas mais frios), com uma cascata de flores e folhas que faz parar o trânsito, está numa esquina da rua 5 de Outubro, no jardim de um palacete onde já funcionou o consulado de um país sul-americano.


Erythrina variegata no Jardim Botânico do Porto
Fotos: pva 05

6 comentários :

Ponto Verde disse...

Ler estes artigos é uma lição de botânica e bom gosto. (invejo o facto de conseguir pôr num post mais que uma imagem, como consegue? )

Anónimo disse...

As sementes germinam muito bem e esta árvore tem uma raiz vermelha com formas muito interesantes. Mais uma vez uma óptima introdução a uma espécie

Maria Carvalho disse...

Caro Ponto Verde: Para inserir mais do que uma imagem num mesmo "post", basta enviá-las pelo Hello e ir depois aos "posts" que são nessa altura criados automaticamente no seu "blog" e copiar os códigos html (um por cada imagem) para o texto pretendido. No final destas operações, não se esqueça de apagar os tais "posts" das imagens.

Sonia F. disse...

Comprei hoje o vosso livro e já comecei a lê-lo. Estou a gostar imenso.

Anónimo disse...

Soube que a Erythrina crista-galli é a flor-símbolo da Argentina (não tenho certeza disso).
Aqui em minha região, muito comum é a "Suinã" (Erythrina speciosa), que perde completamente todas as folhas no nosso inverno (julho/agosto), abrindo todas as suas flores vermelhas, intensamente!!
Muito lindas!!!
As flores são muito apreciadas pelos beija-flores (colibris), especialmente pela abundância de néctar adocidado que fornece.
Também os periquitos (psitacídeos do gênero Brotogeris) passam horas a se deliciar com as flores das arvoretas.
Sendo uma Fabácea por excelência, suas folhagens caídas se prestam muito bem para compostagens e produção de húmus. A decomposição, nas condições adequadas, é rápida e fácil.
Temos também exemplares "gigantes" do gênero Erythrina, que perdem totalmente as folhas e se vestem de um vermelho muito intenso e se destacam na paisagem: são os "Mulungus" (tônica na última sílaba), Erythrina verna e Erythrina mulungu (esta, de tronco mais "enrugado", a outra, de tronco liso, volumoso e com acúleos proeminentes).
São lindas, porque podem atingir 20, 30 metros facilmente.
Muito comuns no vale do Rio Paraíba do Sul, na Serra da Mantiqueira e em Minas Gerais.
Adoram climas muito quentes.

Anónimo disse...

Gostaria muito de conseguir uma muda da árvore ERYTHRINA CRISTA DE GALLI, na minha cidade não consigo ,somente uma casa aqui tem essa árvore dizem que só se consegue a muda no Rio Grande do Sul.Se eu a tivesse seria meu maior presente ,aonde conseguir? porfavor me ajudem. Quero planta-la na minha casa nova vai ser lindo poder admirá-la todos os dias. MAgda Patos de Minas MG.