10/11/2009

Trepadeira-da-Rússia




Fallopia baldschuanica (Regel) Holub

Quando a vimos, acabava-se o Verão no Jardim Botânico de Coimbra, ela cobria todo o muro alto que ladeia o terraço das bauínias (interdito mas que se vai franqueando) e mostrava duas novidades: 1) As flores minúsculas, de 6-8mm de diâmetro, nascem agrupadas em inflorescências ramificadas. Creio que nunca aqui falámos deste tipo de espigas, mas já as vimos em exemplares do género Rumex. 2) A espaços regulares, o caule está coberto por uma bainha membranácea de onde emergem as inflorescências (diz-se ócrea, vê-se numa das fotos) e que justifica o nome francês para esta planta, renouée.

Trepadeira vigorosa, pensámos, excelente para revestir postes de iluminação, adornar caramanchões ou emoldurar pórticos; menos apropriada num jardim botânico, mas, enfim, louvemos a biodiversidade, até porque uma tal cortina, feita de ramagem tingida de rosa e flores brancas perfumadas, era digna de aplauso. Compulsada depois alguma bibliografia, descobrimos que esta planta vivaz cresce muito depressa, podendo atingir numa estação uns 5m de altura (em inglês é por isso conhecida como mile-a-minute, e entre nós por bracilonga) e chegando aos 12m; que usa uns anzóis nos caules e folhas para trepar muros nus e alcançar zonas luminosas; e que se multiplica facilmente por fragmentos da ramagem. Foi então que nos lembrámos de uma prima dela, certamente boa conselheira, que consta da lista das 100 piores invasoras no mundo, a Fallopia japonica (Thunb.). Vendo bem, nem é preciso derrubar-se o muro do Jardim Botânico para que uma planta do leste, para mais de folhagem caduca, aceda a território proibido.

Apesar de originária da Ásia central (sul da Rússia, Sibéria, Afeganistão, Paquistão e Turquestão), é frequente na Península pois, resistente ao frio, não desdenha de um lugarzinho soalheiro e coloniza com eficiência margens de bosques, pauis, bermas de estrada, baldios e, em geral, habitats húmidos do hemisfério norte. Por cá até tem companhia local, pois, das 9 espécies do género Fallopia, uma é ibérica, a Fallopia convolvulus (L.) Á. Löve.

Já se vai embora? Espere, ainda temos para lhe passar algumas informações de bolso, o bolso fundo e meio esburacado onde se enfia a chamada cultura geral. As flores são hermafroditas (com estames e carpelos, estando a componente não usada presente mas sendo estéril), com 5 pétalas, as 3 exteriores maiores e tendo cada uma uma asa no dorso - as mesmas que se notam nos frutos alados, angulosos e de secção triangular (3ª foto). A designação Fallopia é dedicada ao médico italiano Gabriele Fallopio (1523-1562), o que deu nome às trompas. Baldschuanica deriva de Baldschuan, região no sul do Turquistão, a norte da fronteira com o Afeganistão, onde primeiro foi descrita esta espécie.

Agora sim, adeusinho.

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