Azul na estrada
Há já algum tempo que procurávamos esta planta, uma das duas únicas representantes da família Globulariaceae em Portugal continental (a outra é a Globularia alypum, descoberta em 1995 no Barrocal Algarvio; há ainda a madeirense Globularia salicina). Da Globularia vulgaris conhecem-se duas populações no nosso território, uma em Trás-os-Montes, nas margens do Douro internacional, a outra ribatejana. Vive em substratos margosos, e julgávamos que facilmente a encontraríamos no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Mais uma vez este ano, no início de na época da floração (Março), percorremos lugares prováveis no sul do Parque, imaginando, erradamente como se verá, que uma tal relíquia se esconderia num nicho pedregoso de difícil acesso ou em matos densos por onde a custo penetraríamos. Já quase noite, desanimados, a voltar para casa em silêncio, notámos numa curva da estrada umas bolinhas azuis a baloiçar no talude argiloso. Foi afinal o momento certo para descobrir as cerca de cinquenta plantas, porque o trânsito escasso a essa hora permitiu fotografá-las sem perigo.
É uma herbácea vivaz que aprecia solos secos e o sul da Europa. As inflorescências são capítulos solitários, terminais e globulosos, em hastes que variam entre 5 e 40 cm de altura. Notam-se bem o carácter cespitoso mencionado nas Floras, as rosetas de folhas basais pecioladas, com textura coriácea e um ápice dentado, e umas folhas mais pequenas e sésseis, com pintinhas brancas que são excrescências calcárias, a abraçar os talos floríferos. As flores diminutas têm corolas azuladas ou lilases fendidas em cinco lóbulos, de que sobressaem os estames.
Segundo a Flora Ibérica, esta globulária ocorre em França, Itália, Suécia e Península Ibérica. Em Espanha parece ser comum, e há registo de mais oito espécies deste género. Por cá, talvez a sua distribuição tão escassa e irregular se deva aos frequentes e desmedidos melhoramentos rodoviários.
2 comentários :
Eventualmente será esta que se encontrava (não passo por lá há uns 4 ou 5 anos) num talude da estrada de acesso a uma velha fábrica de papel da Renova, perto de Torres Novas. Um talude de declive muito acentuado e solo de argila amarela (margoso), com pouca densidade de vegetação talvez devido ao declive.
Olá
Curioso o que indicam como da Flora Ibérica sobre a distribuição desta planta: a Suécia afinal tem algo mediterrânico! Nunca vi; a flor nunca vi;quanto às folhas..sei lá!às vezes fotografo folhas de plantas que nunca mais irei ver mas..é a vida! Delas, das plantas!
Cumprimentos
Carlos M. Silva
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