21/01/2013

Tempo de víboras

Echium rosulatum Lange


Dos dois nomes comuns registados para esta planta, marcavala-preta e cardo-das-víboras, é difícil dizer qual o mais enigmático. A busca por uma marcavala-branca ou por uma marcavala-sem-cor-especial revelou-se infrutífera. E por que se há-de baptizar como cardo uma planta sem espinhos e sem qualquer semelhança com os cardos genuínos? Já para não falar do susto que é associá-la à víbora, o único réptil realmente perigoso da nossa fauna. (Há, porém, quem não tenha medo dela, e até lhe peça, quando a encontra, que se enrole mais languidamente para a fotografia. Dá outra segurança, aos medrosos como nós, passear na companhia de gente destemida.)

Há uma dificuldade adicional que nos impede de acreditar no carácter genuinamente popular destes nomes vernáculos. Só atendendo a certas miudezas morfológicas é possível distinguir o Echium rosulatum do muito comum E. plantagineum. Sendo no nosso país o conhecimento popular das plantas superficial, seria de esperar que duas quase iguais fossem chamadas pelo mesmo nome. Como aceitar que o povo chame marcavala ao E. rosulatum e soagem ao E. plantagineum, sem nunca hesitar na distinção?

A menos, como é óbvio, que um tal representante do povo seja nosso leitor e assimile a lição deste texto. Tal como nos idos do PREC, também estamos em campanha pela educação popular; mas, em vez de alfabetizarmos, ensinamos botânica. O E. plantagineum, que pinta de roxo os campos primaveris, tem flores maiores, de corola mais aberta que as do seu congénere, que em regra floresce mais tarde. Além do mais, a superfície externa da corola no E. plantagineum é quase glabra, sendo claramente híspida no E. rosulatum (confira na 2.ª foto). Há ainda o número de estames salientes quando se observa a flor de perfil: três ou quatro no E. rosulatum, não mais que dois no E. plantagineum. Finalmente, as folhas do E. rosulatum são mais largas e — pelo menos as caulinares — parecem truncadas na base.

Enquanto que o E. plantagineum se distribui pelo Europa, Ásia e norte de África, o E. rosulatum tem a virtude de só existir na metade oeste da Península Ibérica; e, estando referenciado em quase todas as províncias portuguesas (o Ribatejo é a excepção), é mais frequente no norte. Além da subespécie típica, os botânicos distinguem ainda a subespécie davaei, endemismo português exclusivo das ilhas Berlengas.

1 comentário :

bea disse...

o rosulatum é bastante vulgar e não muito agradável ao tacto. Mas dá, efetivamente, linda cor aos campos. como se o roxo a brotar do chão.

Se eu fora ela apresentava queixa de tal nome