11/02/2013

Amarelo em Agosto

Inula conyza (Griess.) DC.


Talvez com as plantas suceda o mesmo que com as pessoas: ter nome ilustre ou ser aparentado com alguém famoso torna irrelevante a falta de mérito individual. No Portugal dos clãs, o nome é o único passaporte garantido para a notoriedade. Que tem isto a ver com a Inula conyza? A beleza que podemos conceder-lhe é modesta e, embora a planta seja pouco comum no nosso país, ela não faz parte da lista das raridades cobiçadas pelos botânicos. É tudo uma questão de parentesco, pois duas das suas congéneres em território luso são de facto especiais. A Inula crithmoides, que merecia ser chamada de vara-dourada-dos-sapais, pinta de um amarelo intenso, nos meses de Verão, as margens lodosas da ria de Aveiro. E a Inula montana tem a sua indiscutível fotogenia sublimada pelo selo da raridade: Franco, no vol. II da Nova Flora de Portugal (de 1984), chamou-lhe raríssima e interrogou-se se ela não estaria já extinta. Em Trás-os-Montes parece que sim, mas persistem boas populações na serra dos Candeeiros, onde a planta tem feito recuperação assinalável.

O epíteto conyza não é elogioso, já que sugere a afinidade desta planta com a avoadinha (Conyza bonariensis), uma das exóticas mais disseminadas como invasoras em cultivos e baldios. Mas, se a semelhança nos capítulos florais e no modo como eles se dispõem é indiscutível, já no aspecto geral as duas plantas dificilmente se confundem. A Conyza bonariensis é uma vara desgrenhada, com as folhas em atropelo, enquanto que a Inula conyza tem uma silhueta elegante, com folhas largas e esparsas. Ambas, porém, são plantas avantajadas, que podem ultrapassar 1 metro de altura.

A Inula conyza, que se distribui por grande parte da Europa mas em Portugal se fica pelo norte e centro, é uma planta perene, algo tomentosa, que vegeta em sítios mais ou menos pedregosos e floresce de Junho a Agosto.

5 comentários :

bea disse...

não entendo flores que se deixam ficar em botão, se fecham em copas e nada de abrir corolas. intrigam-me.

ZG disse...

Belíssima planta!!
Uma pequena correcção:
Inula conyzae (Griess.) DC.
Nomencl. ref.: Prodr. 5: 464. 1836
= Aster conyzae Griess. (basion.)

(http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameCache=Inula%20conyzae&PTRefFk=7000000)

Asteraceae: Inula conyzae (Griesselich) Meikle -- Fl. Cyprus 2: 890, 1897 (1985):. (IK)

(http://www.ipni.org/ipni/simplePlantNameSearch.do;jsessionid=4CAD64AF2A96BBD96B1F02939FA76735?find_wholeName=inula+conyzae&output_format=normal&query_type=by_query&back_page=query_ipni.html)

Paulo Araújo disse...

Bea:
Aqueles "botões" não são flores, mas sim capítulos florais - ou seja, agrupamentos de minúsculas flores. Essa é a característica distintiva da família Asteraceae, a que pertencem os chamados malmequeres. A diferença entre esta planta e um malmequer não é ter as flores "fechadas" (as flores, embora só visíveis à lupa, estão abertas e têm tudo o que uma flor deve ter), mas sim a ausência de flores liguladas, que são aquelas que fornecem as (impropriamente chamadas) "pétalas".

ZG:
Obrigado pelo reparo. Muito provavelmente Inula conyzae é mesmo a forma correcta, mas em algumas referências (incluindo a Checklist da Flora de Portugal e esta outra) aparece Inula conyza. Há ainda uma confusão acerca do autor do nome: será Meikle ou DC.?

ZG disse...

Caro Paulo:
O autor da combinação deve ser DC., pois é muito anterior a Meikle!
Quase 160 anos anterior!!
ZG

bea disse...

Muito obrigada pelo esclarecimento, Paulo. mas esse capítulo floral ainda me intriga mais.é um natural aperto de flores (o nome capítulo é impec).

pois é. lembrou-me um professor que me dizia o mesmo acerca das pétalas.