22/02/2014

A florir de Janeiro a Dezembro


Calamintha nepeta (L.) Savi
De acordo com um código internacional, a nomenclatura botânica segue regras estritas ao nomear novas plantas para que se atribua o mérito aos seus primeiros descobridores, se garanta que as novas designações estejam correctas e se acautele a compatibilidade com as denominações das outras espécies já conhecidas. Até 2011, sempre que era descrita uma nova planta, os autores da descoberta tinham de propor um nome e, para validar a descoberta, inciar o seu relato em revista científica da especialidade (destinada a dormir em volumes de capa dura no silêncio das bibliotecas) por um parágrafo em latim com os traços gerais da planta e do seu habitat. Agora, um tal resumo pode ser escrito em latim ou inglês, mas não noutras línguas, e a revista pode não ter existência em papel mas apenas on-line, embora os nomes sugeridos tenham ainda de ser latinizados. Talvez a alguns agradasse se, no próximo congresso mundial de botânicos em que se discutirá este código, a realizar na China em 2017, este último reduto do latim fosse desfeiteado e se enterrasse de vez uma língua morta.

O género Calamintha foi proposto em 1754 pelo botânico escocês Philip Miller (1691-1771), e talvez queira dizer «menta formosa», do grego kalos e minthe. Um ano antes, Lineu deu à planta das fotos o nome Melissa nepeta, mas, numa arrumação taxonómica de 1798, o botânico italiano Gaetano Savi (1769-1844) mudou-a para o género Calamintha. Quanto aos nomes comuns, por cá é conhecida como erva-das-azeitonas (por se usar/ter usado para curtir azeitonas), e também por nêveda, palavra que, dizem os dicionários, tem origem no latim nepeta (que, crê-se, se refere à povoação italiana Nepi). Em espanhol, tanto é erva-dos-pastores como erva-pastora, e este último nome é o que julgamos que lhe assenta melhor: com uma distribuição ampla, seja em taludes, orlas de bosques ou olivais, prados ou sítios nitrificados, é frequente depararmos com este pequeno arbusto aromático, viloso, perene e em flor quase todo o ano, a acompanhar-nos como uma cabrinha a pastorear todos os recantos verdinhos.

A Flora Ibérica menciona duas subespécies desta herbácea, C. nepeta subps. nepeta e C. nepeta subsp. sylvatica (cujas folhas exibem margens com um recorte mais fundo), de que só a primeira, que é nativa do centro e sul da Europa, noroeste de África e ilhas Canárias, está assinalada em Portugal. Na Península Ibérica ocorrem mais duas espécies de Calamintha, ambas muito raras.

2 comentários :

bea disse...

Só por florir ano inteiro e ter a tonalidade etérea dos jacarandás já merecia registo.

Carlos M. Silva disse...

Olá

Pelo mapa da sua (actual) distribuição até deveria encontrá-la de forma amiúde, mas nõa, não terá sido frequente ou então é uma que me engana (ou, enganou, vá lá!); já visitara este post há uns dias mas só hoje fui verificar o que tinha e sim, aquando do 'meu 1º encontro com a Sida (Malva) rhombifolia', na S. d'Arga (à Cap. S.Mamede) em 2009 - e sem saber, na altura, que era tal coisa - fotografara sim, esta lamiaceae, mas distribuíra-a por outro género tipo 'thymuoso'!
Aos poucos, muito lentamente, isto vai-se compondo. C/ a vossa precsiosa ajuda.

Carlos M. Silva