16/06/2014

Pérolas na areia


Sagina nodosa (L.) Fenzl


Eis uma planta que, distribuindo-se pelos três continentes do hemisfério norte (incluindo a Gronelândia), tem toda a vantagem em ser conhecida pela designação inglesa knotted pearlwort. Não respeitando ela fronteiras políticas ou divisões geográficas, é o inglês, como língua franca da globalização, que melhor se ajusta ao seu estilo de vida. Se insistíssemos em ser patriotas, haveria o inconveniente de nem a Sagina nodosa nem nenhuma das outras espécies do género (há sete em Portugal) terem algum nome comum na nossa língua, como aliás também não têm em castelhano ou em qualquer outra língua ibérica. De um modo geral, essas lacunas do nosso idioma dever-se-ão à reconhecida falta de apreço que sempre tivemos pelas coisas espontâneas da natureza. Os povos urbanizados do norte da Europa puderam, muito antes de nós, desenvolver uma apreciação estética do mundo natural só ao alcance de quem não cultiva batatas para sobreviver.

Neste caso, porém, a ausência de nome comum em português pode desculpar-se com a raridade da planta em território nacional. Confinada às depressões húmidas em areias litorais a norte do Mondego, ela nunca foi abundante, e hoje em dia, com a rarefacção de tais habitats, sê-lo-á ainda menos. Só a conhecemos de Mira, onde é habitual encontrá-la junto às muitas lagoas e charcos que pontuam os pinhais. Apesar de a Flora Ibérica e outras obras de referência indicarem um período de floração tardio, de Junho a Setembro, em Mira ela adopta a atitude pragmática de florir a partir do início de Maio, logo que os charcos começam a secar e antes que a estiagem se torne demasiado severa. A planta é pequena e débil, com não mais que 10 cm de altura e hastes muito finas e ramificadas, mas as flores, com cerca de 1 cm de diâmetro, são suficientemente vistosas para se destacarem contra o amarelo pálido da areia.

O nome pearlwort, ou erva-das-pérolas, aplica-se a todas as espécies do género Sagina, e talvez se explique pela forma quase esférica dos botões florais. Já o epíteto nodosa, que deu knotted em inglês, refere-se aos verticilos de folhas curtas (não observáveis nos exemplares acima fotografados) que formam nós muito conspícuos ao longo dos caules. A erva-nodosa-das-pérolas destaca-se ainda entre as suas congéneres porque as flores têm pétalas bem visíveis, em geral duas a três vezes maiores do que as sépalas. A regra no género Sagina, como se pode confirmar nesta página, é que as pétalas sejam insignificantes ou mesmo inexistentes.

2 comentários :

bea disse...

A natureza tem pequenas raridades, peças de relojoaria.

ZG disse...

Uma pérola rara e de grande valor!!