Pequenas, amarelas e breves
Linaria munbyana Boiss. & Reut.
Do Algarve a Marrocos ou à Argélia é um pequeno salto, que as plantas deram muito antes do homem e das divisões geopolíticas por ele criadas. Embora discreta e pouco vista, quem sabe se por culpa da floração precoce, a linária de hoje fornece mais um exemplo desses laços transmediterrânicos. Completada a primeira dezena da nossa série de plantas algarvias, verificamos que, com excepção dos dois endemismos vicentinos, todas elas marcam presença tanto a norte como a sul do mar Mediterrâneo. E a Linaria munbyana faz ainda parte, com a Aristolochia baetica e a Phlomis purpurea, do clube mais selecto das plantas que são exclusivas dos quatro países mais ocidentais da bacia mediterrânica: Espanha, Portugal, Marrocos e Argélia. É tentador perguntar se essas plantas euro-africanas são mais de cá ou de lá: tiveram origem na Península Ibérica e daqui passaram para o norte de África, ou foi ao contrário? Talvez a pergunta seja irrespondível ou mesmo disparatada, pois os mares e os continentes não tiveram sempre a configuração que hoje apresentam. Mas, no que toca ao seu reconhecimento taxonómico, a Linaria munbyana é mais magrebina do que ibérica, pois foi a partir de exemplares colhidos na Argélia, perto da cidade costeira de Orã, que o suiço Pierre Edmond Boissier (1810-1885) e o francês Georges François Reuter (1805-1872) primeiramente descreveram a espécie na obra Pugillus plantarum novarum Africae borealis Hispaniaeque australis (Genebra, 1852) — título que em português dá Um punhado de novas plantas do norte de África e do sul do Espanha. O nome que lhe atribuíram, dedicado a Giles Munby (1813–1876), botânico inglês formado em Edimburgo e em Paris, dá testemunho da crescente presença europeia num país que tinha sido anexado pela França em 1830: Munby viveu e trabalhou na Argélia de 1839 a 1860, enriquecendo o conhecimento da flora local com centenas de novas espécies.
As fotos não enganam, e esta é uma daquelas linárias que só admitem viver nas dunas da beira-mar. Do Tejo para norte esse grupo parece ter um único representante, mas se descermos pela costa alentejana a diversidade vai aumentando, e são pelo menos quatro as linárias dunares que enfeitam a costa algarvia. De todas elas, a Linaria munbyana — atingindo 2 a 6 cm de altura, com flores de 1 cm ou menos de diâmetro, e floração de Fevereiro a Março — é certamente a menos vistosa e a que menos vezes é observada. Como planta anual que é, tem a sorte de cumprir todo o seu breve ciclo de vida antes de as praias onde vive serem tomadas de assalto pelos veraneantes. A sua fortuna pode, contudo, oscilar bastante, com as populações a variarem de uns anos para os outros entre muitas centenas e poucas dezenas de indivíduos. A acreditar no que pudemos ver, 2015 terá sido um bom ano para ela.
2 comentários :
Mais uma linária muito bela e raríssima (que ainda não vimos ao vivo)!!
Os olhos maravilham-se nestas plantas pequenas que florescem do meio da areia. E assim realizam o seu impossível. Bonitas. Alegres. Breves.
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