25/08/2015

Juncos & sapos


Juncus bufonius L.
Chamar "bom tempo" ao sol impiedoso que nos estraga a pele e ao calor tórrido que alimenta os incêndios de Verão é uma manifestação de masoquismo e de inconsciência. O genuíno bom tempo é esta inesperada chuva de Agosto que promete reverdecer os campos. Sendo cada vez mais as férias um tempo passado à beira da água — seja a água salgada do mar, a água doce dos rios ou a água clorada das piscinas —, é paradoxal a aversão quase generalizada, no mesmo período, à água que cai do céu.

Em doses variáveis, todas as plantas precisam de água. Há aquelas que vivem em ambientes quase desérticos, armazenando com a avareza dos sobreviventes toda a água que conseguem milagrosamente captar. Habituaram-se de tal forma à aridez que uma fartura inesperada de água lhes é quase sempre mortal. No outro extremo, há as plantas que flutuam nas águas de lagos ou de rios e que desaparecem ou entram em repouso vegetativo nos períodos de seca. O junco que apresentamos hoje, sendo claramente hidrófilo, não exige grandes profundezas de água para se instalar: bastam-lhe a borda de um charco ou uma poça num caminho. Tratando-se de uma planta anual, aproveita a estação favorável para tratar da vida, e quando chega a estiagem já produziu sementes para garantir a geração seguinte.

O Juncus bufonius, cujo nome alude aos sapos ou aos lugares paludosos por eles frequentados, é uma planta de poucos centímetros de altura que forma tufos densos e se distingue das suas congéneres pelas flores quase sempre solitárias (foto 3), dotadas de sépalas e pétalas muito pontiagudas (foto 2). Convém aqui ressalvar que, embora tal uso seja correcto, os especialistas não gostam de empregar os termos "sépala" e "pétala" para descrever as peças florais de um junco, preferindo falar dos "segmentos do perianto": há assim três segmentos externos (as sépalas que envolvem a flor antes de ela abrir) e três internos (as pétalas). Quando a flor está aberta, os dois tipos de segmento não são muito diferentes, ao contrário do que sucede com as flores mais "clássicas", onde é clara a distinção entre cálice (formado pelas sépalas) e corola (formada pelas pétalas). Os juncos não são as únicas plantas em que é pequena a diferença entre pétalas e sépalas: as tulipas (e, de um modo geral, todas as liliáceas) sofrem da mesma indiferenciação. As flores dos juncos e das tulipas têm de facto estrutura quase idêntica: seis segmentos do perianto (três externos e três internos, mas de resto pouco diferenciados tanto na forma como na cor), seis estames, ovário súpero equipado com três estigmas. Os juncos, que são polinizados pelo vento, ficaram-se por essa arquitectura básica, despojada de enfeites e atractivos e reduzida ao tamanho mínimo; as tulipas, obrigadas a atrair insectos, engrandeceram as flores, pintaram-nas de cores vistosas e rechearam-nas de néctar.

Talvez não houvesse necessidade de escolher as Flores (Açores) para fotografar esta espécie tão comum em todo o território nacional. Mas foi isso mesmo que fizemos, aproveitando o facto de o Juncus bufonius, em Junho, graças ao clima hiper-húmido da ilha, se apresentar exuberante, com as flores todas abertas criando a ilusão de que ele até se esforça por ser bonito.


Flores: ribeira da Badanela

2 comentários :

ZG disse...

Belo post, grande regresso! Nada como os Açores, a água, os sapos e os juncos!

bea disse...

Juncos em estrela. As maravilhas que a natureza tem e quase e não vêem