Praias de pouco andar
Cyperus capitatus Vand.
O regresso da chuva — amaldiçoada por aqueles que desejam que ela só caia de noite ou, se tiver mesmo de cair a horas menos amigáveis, apenas onde faça falta (campos, albufeiras) — obriga os portugueses a interromper temporariamente os ensaios para as férias de Verão. Com estas tépidas Primaveras a que nos vamos afeiçoando, a época balnear ocupa no mínimo metade do ano, e os areais que costumavam encher-se apenas em Agosto acolhem agora banhistas de Abril a Setembro. Talvez se deva lamentar o fraco empenho dos portugueses em diversificar as suas (in)actividades de lazer, mas quem mais sofre com o assalto contínuo às praias são as plantas dunares. Embora o problema seja atenuado pela instalação de passadiços nas praias mais concorridas, há plantas que se fizeram raras e poucas oportunidades terão de se reinstalar nos lugares de onde foram (involuntariamente) extirpadas.
A junça-da-praia (Cyperus capitatus), que é nativa de toda a região mediterrânica e, em Portugal, deveria aparecer do Minho ao Algarve, fez-se entre nós bastante esporádica. A crer no portal Flora-On, praticamente desapareceu a norte do Douro. As praias do litoral centro onde ainda persistem bons contingentes da espécie são aquelas que, pelos maus acessos e pela ausência de rede de telemóvel, são evitadas pelos veraneantes comuns. Planta de proporções modestas, com hastes que não ultrapassam os 40 cm, a junça-da-praia destaca-se da família a que pertence, em grande parte formada por espécies pouco vistosas, pela atraente folhagem glauca, semelhante à do narciso-das-areias (Pancratium maritimum). Tal como outras espécies que vivem em areias móveis, é dotada de um rizoma comprido, às vezes com vários metros de comprimento, podendo uma mesma planta lançar hastes bem afastadas umas das outras.
O nome junça pode ser dado a qualquer uma das dez espécies de Cyperus na flora portuguesa, das quais nove são tidas como autóctones e uma (Cyperus eragrostis) é exótica e assaz invasora. As três brácteas muito compridas onde se aninha a inflorescência são um distintivo traço comum a todas elas. Com a notória excepção da junça-da-praia, são plantas de terrenos húmidos, amiúde encharcados. A mais famosa espécie do género, que não pertence à flora portuguesa mas é cultivada em jardins aquáticos, é o Cyperus papyrus, originária de África e usada no antigo Egipto para produzir o papiro, suporte de escrita que foi um dos primeiros antepassados do papel.
1 comentário :
Creio nunca a ter vista nas praias que frequento. Mas este ano vou tomar mais atenção à vegetação das dunas, que a junça da praia tem características muito próprias. Se bem que as minhas praias são de muito andar e, provavelmente, ela desertou.
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