18/04/2018

Assembleias de montanha


Iberis carnosa Willd.


O nome Iberis refere-se à Península Ibérica, que nos séculos XVIII e XIX serviu de «Amazónia» para muitos exploradores europeus de botânica. E, ainda que haja Iberis noutras regiões, cerca de dois terços das espécies conhecidas ocorrem na Península Ibérica. A lista das espécies deste género de que há registo em Portugal é mais modesta, apenas quatro, mas dela consta uma subespécie endémica, cujas populações se situam no litoral e quasi-litoral (locais perto da costa, por vezes elevados, mas não à beira-mar) do centro do país.

A designação comum em português, assembleias, alude com precisão aos corimbos de flores reunidas a formar uma superfície quase plana. Em inglês chamam-lhes candytuft, algo a soar como ramalhete-de-Candia, sendo Candia um nome antigo para uma região na ilha de Creta. As Iberis são da família Brassicacea, a da couve (Brassica oleracea), cujos membros têm em comum dois pormenores que ajudam a identificá-los: as quatro pétalas em cruz (por isso Brassicacea = Cruciferae) e as sementes em silíquas longas ou achatadas, que no género Iberis são redondas como bolachas.

As assembleias que conhecemos melhor são costeiras, apreciando o solo arenoso e a ausência de sombra. Protegem-se do vento, do excesso de sal e da areia abrasiva com folhas carnudas e porte rasteiro. Na montanha são outros os receios, mas as plantas não descartam estas características vantajosas, acrescentando alguma penugem como agasalho aos talos e à folhagem. A espécie que hoje vos mostramos, e que vimos em fissuras de rocha no Picon del Fraile (Cantábria), é de montanha, entre os 800 e os 1500m de altitude. Sendo perene, passa o Inverno debaixo de neve, mantendo-se baixinha (não mais de 10cm de altura) enquanto floresce no Verão, pois (como experimentámos) nestes picos o frio e a ventania raramente arredam pé. É espontânea na bacia mediterrânica e em Espanha.

1 comentário :

bea disse...

Seria nelas que pensava Raúl Brandão quando deu o título a um conjunto de escritos seus, "A pedra ainda há-de dar flor"? Ou as lindas assembleias dirão para consigo, "Eu hei-de amar uma pedra"?!
Não entendo o milagre de flores tão bonitas terem o seu habitat entre pedras e por ali florirem no á vontade de quem apanha sol à porta de casa. é coisa que me maravilha.
Obrigada pela mostra.