Violeta da Madeira
O género Viola contém cerca de 600 espécies que se adaptaram bem ao clima temperado do hemisfério norte, com raras excepções em climas mais extremos. Na nossa visita recente à Madeira, procurámos algumas das plantas dos picos mais altos, as que florescem antes que o calor se torne excessivo, e dessa lista constava uma viola. Depois de tentar, sem sucesso, avistar algum exemplar dessa viola em flor no Pico do Areeiro, encontrámos finalmente uma planta florida no Pico Ruivo. Tivemos de subir acima de uma espessa nuvem, de sentir por vezes as orelhas e a ponta do nariz demasiado aquecidas pelo sol, para de seguida nos impacientarmos com os arrepios de vento frio, de percorrer com muita cautela bordos de escarpas mal protegidas, e de suspirar com o cansaço nos olhos de tanto procurar flores pequeninas; mas na volta, com a fotografia tão desejada, esvoaçámos de contentamento. Apesar dos inúmeros turistas, não foi preciso disputar um lugar na fila para fotografar a única flor de Viola paradoxa que ali se via. Em alegres almoços de campanha, os visitantes queriam apenas fotografar-se no belo cenário de picos com nuvens, decididos a registar, para de imediato enviar ao mundo, a heróica chegada ao topo da ilha.
Endémica do Arquipélago da Madeira, esta violeta rara está protegida pelo Anexo II e IV da Diretiva Habitats e pelo Anexo I da Convenção sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais na Europa. É uma herbácea perene, de folhagem densa e folhas carnudas. As flores são solitárias e axilares, com uma corola de cerca de 2,5 centímetros de diâmetro e pétalas enfeitadas com nervuras escuras (como bigodes de gato).
Na primeira descrição desta espécie, em 1838, Lowe assinala a parecença do tamanho, formato e disposição das pétalas das flores da Viola paradoxa com as da espécie Viola calcarata (uma planta alpina, nativa das montanhas do sudeste da Europa); as folhas, porém, escreve Lowe em latim, são como as da Viola tricolor (os pequenos amores-perfeitos coloridos em vários tons que vemos floridos entre Abril e Setembro nos canteiros de alguns jardins públicos). Uma mistura tão invulgar de morfologias valeu-lhe naturalmente o epíteto paradoxa. Floresce em Junho e vive em fissuras de rochas na zona montanhosa central da Madeira, dos 1600 aos 1800 metros de altitude.
2 comentários :
Uma beleza, ou melhor, várias!
Esvoaçámos de... é um forma gira de dizer "da alegria".
Abçs
Belíssima.
Enviar um comentário