Aipo madeirense
Há nomes que são começos de desmentido. É o caso do Melanoselinum decipiens, que é como quem diz aipo enganador. Esta é uma umbelífera de grande porte (pode atingir 3 metros de altura) com folhas que lembram as das angélicas, parecença que já foi fonte de alguns equívocos. Não sendo, pelo seu tamanho, planta fácil de herborizar, houve quem atentasse apenas no formato das folhas e a confundisse com o endemismo açoriano Angelica lignescens. Na verdade, bastaria que se vissem as duas espécies em flor para confirmar como afinal são bastante distintas, podendo-se depois notar mais diferenças ao analisar os frutos. Erros à parte, há que reconhecer que as espécies dos géneros Melanoselinum (endémico da Madeira e monoespecífico) e Angelica não se pouparam a esforços para aproveitar os bons ares, solos, crateras e escarpas húmidas dos arquipélagos da Madeira e dos Açores para engordar sem remorsos e se situarem a meio caminho entre uma herbácea com caule lenhoso e uma árvore.
O aipo-da-serra é perene mas monocárpico (tal como a Angelica lignescens), o que significa que tem vida curta (dois ou três anos; a Angelica lignescens dura uma meia dúzia). As folhas são divididas e enormes, com cerca de 60cm de comprimento e 40cm de largura (as da Angelica lignescens são maiores), dispostas em roseta na parte superior do caule. As flores são pequeninas, com pétalas de um rosa pálido, mas reúnem-se em umbelas vistosas que se juntam numa inflorescência terminal larga e plana, uma umbela de umbelas com uns 50-90cm de diâmetro. Na Angelica lignescens, pelo contrário, as flores são esverdeadas e agrupam-se em bolas gigantes, que por sua vez se dispõem num arranjo esférico ainda maior, como se mostra nesta foto.
Estes números são expressivos: ainda que o Melanoselinum fosse raro, pelo tamanho e cor seria fácil detectá-lo nas ravinas rochosas do interior da Madeira, tal como é fácil avistar a angélica açoriana nas caldeiras de Santa Bárbara (Terceira) ou do Faial. Os exemplares de aipo-da-serra das fotos (com a excepção em baixo) moram em escarpas sombreadas do Curral das Freiras, aproveitando o solo firme mas húmido junto a um túnel desactivado que só deve percorrer quem consiga dividir a atenção, ainda que não igualmente, entre as inúmeras plantas que por ali se vêem e o frequente desprendimento de pedras.
1 comentário :
Tão belos, descobrir a "Atântida" com olhos tão diversos... Uma boa rentrée.
Abçs
Enviar um comentário