20/06/2023

Oliveirinha de bagas vermelhas

Tournefort, o botânico francês a quem se atribui o mérito de uma definição rigorosa de género para as plantas, chamou-lhe Chamaelea — que é como quem diz de pequeno porte. Anos depois, Lineu mudou-lhe o nome para Cneorum tricoccon. Sem dar explicações sobre esta decisão (pelo menos não se conhece registo de nenhuma, diz a Flora Ibérica), é plausível que Lineu tenha notado que estas plantas podem afinal atingir 1,8 metros de altura (digamos, o tamanho de uma pessoa alta), e que entendesse ser mais relevante que a designação aludisse a dois outros pormenores da morfologia nesta espécie: a parecença da folhagem com a da oliveira (daí o Cneorum) e o facto de os frutos se agruparem em três lóculos, cada um com uma ou duas sementes (tri + coccon, claro). Nome algo enganador, porém, já que esta espécie pertence à família Rutaceae, a mesma das laranjeiras e dos limoeiros.

Cneorum tricoccon L.


Originária da região mediterrânica, é frequente nas ilhas Baleares, em matos e pinhais próximos do litoral e com solo calcário. Mas é, ou sempre foi, rara no resto da Península Ibérica, e dela não há registo em Portugal.



Da outra espécie do género Cneorum actualmente aceite pelos botânicos, Cneorum pulverulentum, endémica do arquipélago das Canárias, já aqui vos demos alguma informação. Num curioso retorno ao passado pré-Lineu, algumas Floras designam a espécie das Canárias como Neochamaelea pulverulenta. Note-se como na mudança de género, de Cneorum para Neochamaelea, houve simultaneamente uma fuga ao nome antigo, rejeitado por Lineu, e uma mudança da categoria morfossintática do epíteto específico. Como disse?, perguntará o leitor, franzindo o sobrolho. É uma expressão sofisticada e obscura do dicionário, tem razão, até porque quer apenas informar que do masculino pulverulentum se passou ao feminino pulverulenta. Não sabemos por que razão botânica esta distinção de sexo nas palavras é essencial. Lineu, contudo, cuja obra foi quase toda escrita em latim e para quem o binómio género/espécie, se bem escolhido, era a chave do sucesso da taxonomia, decerto aplaudiria este desvelo gramatical.

1 comentário :

ZG disse...

Mais uma maravilha que nunca vi... Fantástico!