25/08/2005

Lavandeira


Foto: pva 0508 - Largo da Lavandeira, Oliveira do Douro (Gaia)

No passado sábado, 20 de Agosto, foi inaugurado na freguesia de Oliveira do Douro, em Gaia, o Parque da Lavandeira, uma nova área verde com cerca de onze hectares. Lavandeira! Conheço este nome desde criança, pois, embora não morássemos lá mas numa rua próxima, cruzávamos diariamente, eu e a minha família, o Largo da Lavandeira: era aí que tomávamos transporte para o Porto; é aí que desemboca a Rua Raimundo de Carvalho, que liga à Avenida da República (antes chamada Avenida do Marechal Carmona); no largo existia e existe a oficina onde muitas vezes mandei consertar a bicicleta. Passei pelo largo milhares de vezes; também milhares de vezes fiz a pé os 2 Kms até Gaia, onde estudava (Oliveira do Douro não era Gaia).

Impressões de um regresso fortuito? Toda a freguesia foi retalhada, por vezes brutalmente, pelas novas vias rápidas e nós de acesso. Só por loucura me aventuraria agora a pé pelo antigo percurso; e só pais irresponsáveis consentiriam hoje que os seus filhos cometessem tal caminhada. A Rua Raimundo de Carvalho foi alargada e asfaltada, mas continua sem passeios; e surgiram duas gigantescas rotundas que nenhum peão poderá circundar sem perigo de vida. As urbanizações, que começaram em Mafamude, em torno do cemitério e do liceu, vieram alastrando, engolindo campos agrícolas, e ocupam já a ladeira que antecede o largo. Só a Lavandeira continua inalterável: os mesmos prédios, as mesmas lojas, o mesmo cedro no jardim do prédio à entrada do largo, os mesmos plátanos bordejando a placa triangular. E só agora tomo consciência de que este é o único largo arborizado em toda a freguesia, e estes quinze plátanos são quase as únicas árvores em espaço público num território de 7,5 Km2 com mais de 23000 habitantes. (Não é exactamente assim: há árvores junto à igreja paroquial e na rua que a ela conduz; e o Areinho e o Monte da Virgem, locais bem arborizados, ainda pertencem à freguesia. Mas largo como este, com casas à volta e árvores no meio, não há outro em Oliveira do Douro.)

Cá estamos no Largo da Lavandeira. Por onde se entra no Parque? Não é pelo portão da Quinta da Lavandeira, que ainda dá acesso a propriedade privada. Avançamos pela Rua do Conde Silva Monteiro e, uns seiscentos metros adiante, numa Rua de Almeida Garrett com ar de recém-estreada, vê-se o anúncio do Parque da Lavandeira em letras garrafais; ao lado, e um pouco abaixo do nível da rua, abre-se uma vasto estacionamento. É óbvio que o Parque da Lavandeira não quer conversa com o Largo da Lavandeira: não é um parque urbano, integrado na malha de ruas e na vivência quotidiana de um lugar, mas tão só um parque para quem chega e parte de automóvel.

Tirando isso (e tirar isso é tirar muito), o parque é resultado de trabalho meritório, tanto paisagístico como no aproveitamento da vegetação remanescente de uma propriedade que ficou ao abandono durante décadas. A brochura sobre o parque e a história da antiga quinta, concebida pela equipa do Parque Biológico de Gaia (que também dirigiu os trabalhos do novo parque), está bem elaborada e é muito informativa. Voltaremos ao assunto.

5 comentários :

Paulo Araújo disse...

Transcrever um poema de Fernando Pessoa atribuindo a autoria a outrém não é o comentário mais apropriado ao meu texto. Acresce que a mesma pessoa andou a espalhar idêntico comentário numa série de outros "blogues". Como o endereço publicitado não é coisa que se recomende, optei por apagar o comentário. Para que conste, o poema plagiado foi o seguinte:

"Somewhere where I Shall never live
A palace garden bowers
Such beauty that dreams of it grieve
There,lining walks immemorial,
Great antenal flowers
My lost life, before soul, recall
There I was Happy and the child
That had cool shadows
Wherein to feel sweetly exiled
They took all these true things away
O my lost meadows!
My childwood before Night and Day!"

PR disse...

uma boa notícia portanto...

Anónimo disse...

A abordagem do texto sobre o lugar está óptima. É tão bom rever Gaia e morei muitos anos aí bem próximo ao Liceu. Neste largo, além das bicicletas, um senhor - me falha o nome - faz um trabalho excelente em estofamentos. Faltam sim, passeios que nos induzam a "passeios" à pé por esta parte de Gaia.
Gostei! :)

Eduardo Vítor Rodrigues disse...

Excelente Parque, como refere. Trata-se de uum espaço verde, com inúmeras potencialidades. Apenas posso acrescentar que a zona envolvente está muito diferente e melhor. Já tem passeios (o comentário anterior está desactualizado!) e alguns claros melhoramentos, mantendo os problemas de zonas peri-urbanas. Vale a pena visitar.

Eduardo Vítor Rodrigues disse...

Excelente Parque, como refere. Trata-se de uum espaço verde, com inúmeras potencialidades. Apenas posso acrescentar que a zona envolvente está muito diferente e melhor. Já tem passeios (o comentário anterior está desactualizado!) e alguns claros melhoramentos, mantendo os problemas de zonas peri-urbanas. Vale a pena visitar.