13/09/2011

A fonte no monte



Montia fontana L.

As folhas, carnudas, espatuladas e sésseis, e a ramagem prostrada, por vezes rubra, a formar um matinho denso: tudo faz lembrar a prima beldroega (Portulaca oleracea L.). Também esta planta é (no início da Primavera) tenrinha e comestível, com um sabor que lembra o do agrião. O nome comum em inglês, miner's lettuce, alude precisamente ao seu consumo em saladas por mineiros da Califórnia no século XIX. Porém, ao contrário das flores vistosas da Portulaca, as da marujinha são inconspícuas (2-3 mm), com pétalas desiguais, como se moldadas em gesso por artesão atabalhoado com pulsão para miniaturista. Por isso, a outra designação inglesa, blinks, ajusta-se-lhe melhor.

É uma herbácea ripícola, da beira de fontes, nascentes ou margens de regatos e até locais periodicamente inundados, mas que prefere água corrente. É anual ou bienal e a floração ocorre entre Abril e Outubro. Encontrámo-la no Covão d'Ametade, a revestir um talude irrigado por um cachão de água; as folhas, com uns 5 mm de comprimento, estavam longe do máximo descrito para esta espécie, fixado em 2 cm.

O género Montia (designação que homenageia o naturalista italiano Giuseppe Monti (1682-1760)) tem estado em processo de reorganização, mas ainda subsistem dúvidas. As actuais etiquetas dependem sobretudo da textura da casca das sementes (em geral, três por cada fruto, reniformes e negras). A culpa é da grande variabilidade morfológica que as espécies deste género exibem, uma canseira para os taxonomistas mas que as ajuda a adaptarem-se a novos habitats. Com essa estratégia, estão a tornar-se cosmopolitas, depois de terem sido consideradas pontuais em vários ambientes. Algumas Floras entendem hoje que as plantas do género Montia que ocorrem em Portugal pertencem a duas das três subespécies registadas de Montia fontana (a subsp. amporitana, mais comum, ou a subespécie chondrosperma, com menor exigência de água) ou à espécie Montia perfoliata (Willd.) Howell, a beldoega-de-Inverno, norte-americana de origem, citada por Franco como subespontânea na serra de S. Mamede. Segundo o mesmo autor, a planta da foto (que já se chamou Montia lusitanica Samp.) só é rara no sul do país.

1 comentário :

trepadeira disse...

Fazem uma salada deliciosa,do mais sublime.
Aqui na quinta,Vale do Mondego,PNSE,há uma quantidade imensa.
Embora abusando,tenho algum receio das tais lesmas minúsculas.Temos muito cuidado lavando-a,quase,folha a folha.

Cordial abraço,
mário