23/09/2011

Rorela-de-folhas-longas

Drosera intermedia Hayne
Foi numa turfeira na Paisagem Protegida de Corno do Bico que a vimos pela primeira vez. O Lameiro das Cebolas é um habitat raro e frágil, com solo ácido, onde está referenciada a presença de plantas raras ou de distribuição restrita, como a Bruchia vogesiaca e a Menyanthes trifoliata. Está legalmente protegido mas, na prática, apenas guardado por uma cerca de madeira, e cavalos e vacas continuam a frequentá-lo. Talvez a sobrevivência deste ecossistema não seja incompatível com a presença ocasional destes animais, mas não seria mau reforçar a vigilância.

Um lugar assim lamacento serve de recreio a muitos insectos, como convém às orvalhinhas. E do orvalho-ao-sol havia inúmeros pés, até no bordo mais seco do paul. A Drosera intermedia tem um aspecto geral semelhante ao da D. rotundifolia, ambas com rosetas basais e flores brancas de Verão, e podem partilhar o mesmo pedaço de terra (está até registado um híbrido entre ambas). Mas é fácil distingui-las: as folhas da D. intermedia parecem colheres de sopa, graças ao pecíolo longo, e as hastes florais são bem mais curtas do que as da D. rotundifolia.

Muito mais vulnerável que a turfeira de Paredes de Coura é o segundo lugar onde a vimos. Descobrimo-lo a partir de uma fotografia de há uns anos da serra de Valongo. Ao lado da faixa amarela de um estradão de terra via-se uma ladeira com alguns (poucos) pinheiros, alguns (muitos) eucaliptos, um poste eléctrico cinzento e, em fundo, um monte revestido por vegetação rala e desfeado pela cicatriz da extracção de xisto. Num canto improvável, certamente muito menos húmido do que a turfeira das Cebolas, um manto rubro que, ampliado, parecia ser de Drosera. Pouca informação, pensámos, para adivinhar onde fica um sítio assim numa serra cuja paisagem se tem vindo a uniformizar precisamente neste formato de secura, torrões a esfarelar-se, eucaliptos, escavações na pedra e tapetes cerrados de tojo, carqueja e urze a desencorajar outras plantas menos aguerridas. Mas, como sabem, o descanso das férias fomenta devaneios, e lá fomos incréus à procura. O exercício gastou-nos uma tarde, mas fomos recompensados pela surpresa de neste ambiente tão destruído ainda conseguirmos achar contentamento.

2 comentários :

Francisco Clamote disse...

Espécie espectacular e comentário excelente. Cumprimentos

Maria Carvalho disse...

Já não contávamos vê-la este ano, julgando-a num nicho mais para sul - e afinal estava aqui ao lado.