Não comerei da alface a verde pétala
Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
Vinicius de Moraes, Poesia completa e prosa (3ª ed. 1998)
Dedicado a todos os desenfastiados da quadra.
2 comentários :
Belo poema para a época de exageros pantagruélicos que atravessamos.
...ainda bem que não somos uma costa sem farois e temos quem nos guie. Que as palavras sábias nunca se apaguem e do prato o molho não acabe!
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