Brazilian candles
Pensei que fosse o meu o teu cansaço -
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...
E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
Mário de Sá-Carneiro, Último Soneto, in Indícios de Oiro (1937)
A cidade está de roxo. Dos gerânios, miosótis, campânulas, agapantos, verbenas, budléias, quaresmeiras, malvas-silvestres, hibiscos-sírios e muitas outras plantas que, no auge da floração violácea, pintam o postal com que nos despedimos dos amores breves e dos dias longos. Mas para que este não seja um Verão como os outros, há uma malvácea rara a protagonizar o fim da temporada: uma Pavonia x gledhillii, híbrido de jardim entre a P. makoyana e a P. multiflora, de flores cuja coloração, se bem misturada, daria um belo lilás. As pétalas são castanhas e envolvidas por um epicálice púrpura, configuração que lhes dá o ar de não estarem bem abertas; o estigma é vermelho e as anteras azuis.
O nome do género, que inclui cerca de 180 espécies tropicais, homenageia José António Pavón y Jiménez (1754-1844), naturalista espanhol, co-autor da Flora Peruviana et Chilensis do Jardim Botânico de Madrid.
3 comentários :
Belas tonalidades para este quase Outono.
Cidade alumiada de tons-gosto. Do meu gosto de conhecer, as velas de tão longe...! Abç
Bem observado, Maria. O roxo é cor pascal, por tradição, que associamos ao sacrifício, ao
martírio e à dor. Mas no Verão - que poeticamente é época de luxúria, paixões e canções, e na natureza é fase de grande sedução entre flores, passarinhos e insectos para que a polinização não falhe - o roxo, e o amarelo, são muito vistos. Nesse sentido, o significado da cor violeta que Mário de Sá-Carneiro usa é "natural", e os (bons) dicionários já o registam.
Enviar um comentário