29/09/2007

Para breve (mais) sizentismo em Guimarães?

Alerta via A Baixa do Porto


Condenados? Jardim da Alameda S. Dâmaso (11. 2006) e Largo do Toural (09.2006).

«Notícia JN: Revolução no Largo do Toural com a assinatura de Siza
Meus caros,
Será que não se aprende nada nessa nossa abençoada terra?

O que mais me estranha é como a coisa é feita.
1. Escolhe-se o arquitecto - assim, alguém o faz;
2. Encomenda-se o projecto - assim, como ele quer (?);
3. Põe-se o dito a debate público - assim, como um facto consumado.

Ora não sería melhor ter o debate à cabeça? Talvez se chegasse à conclusão que o que está, está bem. Ou que necessitava só de conservação. Ou de uns sanitários públicos por baixo do coreto e a revitalização do antigo café-esplanada. Mas assim não. Vai tudo abaixo, começando com as árvores que pouca falta fazem e os canteiros que só atrapalham e dão trabalho, em nome de uma modernidade importada e descaracterizante.

Que parolos: É que o rei vai nu!
Como já aqui disse, no Porto, olhai para os Jardins da Montevideu e Cordoaria, e as praças do Infante, Poveiros, Leões e D. João I, a Avenida dos Aliados, a Rotunda do Castelo do Queijo, o espaço em frente à Cadeia da Relação e do Piolho....

Alexandre Borges Gomes, Bruxelas » in A Baixa do Porto

  • Sobre a obra anterior de Siza Vieira nesta cidade, o Parque da Mumadona, ler a opinião de Francisco Teixeira transcrita aqui.

7 comentários :

ManuelaDLRamos disse...

No Jornal de Notícias
por Francisco Teixeira doutor em filosofia em Novembro de 2005:
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«O parque da Mumadona
Não fosse Siza e já os clamores teriam surgido o autor daquela desfeiada praça
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O parque da Mumadona é um dos desenhos mais feios e mais desencontrados de todas as recuperações que se fizeram em Guimarães

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Se já não chegasse ao parque de estacionamento da Mumadona o ter sido inaugurado antes de o ser, de continuar em trabalhos até hoje e de se constituir uma das obras mais caras de sempre de Guimarães (164 lugares de estacionamento pela módica quantia de dois milhões de euros, o que dá sensivelmente 2500 por lugar de estacionamento, para servir, no essencial, os funcionários da Câmara e do Tribunal!), ainda tem, agora (e para sempre?) a desdita de aparecer como um dos desenhos mais feios e mais desencontrados de todas as recuperações que já se fizeram em Guimarães.
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Os argumentos para mostrar a fealdade da obra são por de mais evidentes. Antes de tudo o mais é feia a esfericidade apertada e opaca dos muros interiores e exteriores da praça, que entravam a sua visibilidade e transparência, outrora aberta e livre. No entanto, o mais evidentemente feio de todo o desenho são os próprios muros e o granito quase polido que os constituiu, segundo uma textura estranha à envolvente granítica antiga.
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Não, claro, que se pudesse evitar o ar novo e deslocado de materiais novos. De qualquer modo, sempre seria de esperar alguma congruência entre o que está e o que passa a estar, com particular realce para as texturas do Palácio da Justiça, da Muralha e dos Paços dos Duques de Bragança. Pelo contrário, aquilo a que se assiste é a uma opção por um granito luzidio e suave (que não parece da região), contrastando com os pisos e as paredes que envolvem e configuram a praça, fazendo lembrar o pior da arquitectura de "emigrantes".
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Claro que sei que a obra é de Siza Vieira. Mas isso só acentua a má obra e a falta de cuidado. Siza, obviamente, podia e devia fazer muito melhor.
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O que as obras de grandes artistas têm de mau é este acriticismo prévio e contínuo, que impede a vigilância e a discussão. Não fosse Siza o autor daquela desfeiada praça e já os clamores teriam surgido, se não tivessem, como deviam, surgido antes, quando, quem sabe, viu a fealdade que ali se instalou.
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No entanto, Siza, o nome e a estatura, enevoou o juízo e, agora, temos o que ali está, dependente da autocrítica impossível, para poder ser arrasado e recomposto, libertando a praça dos muretes de minifúndio que abafam o que até ali respirava com leveza e brandura.
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Ainda que Távora já tenha morrido, é impossível não tentar imaginar o que o mestre do Porto e inventor do Centro Histórico de Guimarães pensaria daqueles brilhos e perfis graníticos, que mais parecem canteiros de flores. Ele, Távora, que inventou o espírito de Guimarães, feito de uma dura suavidade granítica, polida pelo tempo mas não pelo espírito de novidade e encadeamento luminosos, deve sorrir, com um esgar pesaroso, a olhar para a sua Guimarães.
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Mal partiu, logo lhe inventam novos-riquismos que estilhaçam e impedem o olhar, que atafulham o andar e o passeio. Mal partiu, logo perderam o juízo.
»

a.mar disse...

O pior é que parece que não podemos fazer nada.
Decide-se fazer passar máquina por cima de anos de história e destruir o património e destrói-se.
Isto faz-me lembrar um certo período da nossa história em que se "limparam" também certos locais e, as pessoas, analfabetas, fizeram nada. Que as coisas novas sempre têm um aspecto mais limpinho...
Tanto apelam ao retorno desses tempos, que eles aí estão, e as pessoas distraídas no shopping a sonhar com certas aquisições...

Anónimo disse...

Podem ver mais informações sobre estes projectos que estão "Seguindo a tendência urbanística.." aqui:

Notícias de Guimarães

ManuelaDLRamos disse...

Não há dúvida: é o reconto Fábula sizenta do Lobo e da Avozinha !

Noticias de Guimarães

«Seguindo a tendência urbanística
'Toural e Alameda numa só Praça e sem carros'

O mais esperado dos projectos era o respeitante ao Toural/Alameda S. Dâmaso/Rua de Stº António. É que, para além de ser considerado a ‘sala de visitas da cidade’, o Toural é dos sítios mais carismáticos da cidade.

É um espaço de encontros e desencontros, de chegadas e de partidas de sorrisos e lágrimas. É único, como o sentem os vimaranenses.
Talvez por isto, os diferentes arranjos urbanísticos de que foi alvo ao longo dos anos nunca lhe retiraram a traça original.

Mas a proposta agora apresentada é, nesse sentido, arrojada. Seguindo a tendência urbanística – nem só o vestuário é de modas – o projecto proposto para o Toural/Alameda de S. Dâmaso e Rua de Stº António vai de facto apagar a memória do Toural. Mas não vai anular o pressuposto do espaço que tal como a cidade “nunca foi e não é uma realidade estática e imutável, antes pressupondo um dinamismo que a permite acompanhar a evolução do tempo e acomodar-se às novas exigências, necessidades e vontade da população”, como salientou na introdução da apresentação do projecto, o arquitecto municipal Vítor Fernandes.

O técnico considerou ainda ser incontornável na construção da cidade, e enquanto expressão máxima da vivência em comunidade, o espaço público em Guimarães encontra no Toural e Alameda S. Dâmaso o seu espaço de carga mais simbólica e identitária, numa relação afectiva com a população que permanece e se aprofunda com a história da própria cidade.

Explicando as bases do projecto, Vítor Fernandes adiantou que em função de uma cada vez maior exigência de conforto no usufruto do espaço público, na valorização da qualidade ambiental do território urbano, no apoio à realidade económica local e no incremento da qualidade urbanística, foi iniciado um processo de análise dos principais espaços públicos da cidade, que na zona em análise destacou como pontos negativos: condições pouco favoráveis de acessibilidade e mobilidade; perda de dinamismo residencial; envelhecimento da capacidade empresarial tradicional e consequente perda da competitividade;
presença massiva e contínua do automóvel gerando descontinuidade espacial e poluição ambiental e desconforto na vivência e fruição do espaço público – Toural e Alameda.

Perante esta realidade, encarando como factor incontor-nável a afectividade e simbolismo desta área para os vimaranenses, o projecto proposto visa, segundo a explicação do técnico, o reforço do carácter simbólico e identitário do Toural, enobrecendo o seu espaço físico e tornando-o mais atractivo e confortável para a população; compatibilizar o incremento da vivência do espaço, através de espaço de estar e lazer, com a circulação viária de automóveis e autocarros; aumentar a qualidade ambiental e formal, diminuindo a presença do automóvel e autocarro em favor da circulação pedonal e bicicleta; criar condições de aparcamento automóvel que permitam libertar o espaço público do Toural e do Centro Histórico da presença constante ao longo do dia do automóvel; incrementar o processo de requalificação e aumento de atractividade do comércio tradicional e dotar o Toural de uma imagem de contemporaneidade afirmativa da cidade, num momento histórico em que a competitividade entre as cidades nunca foi tão visível..
'Estátua fica, fonte sai'.

Apresentadas as razões do projecto, Vítor Fernandes passou a palavra ao colega de profissão Seara de Sá, que em nome do Gabinete Pitágoras, responsável pelo desenho da proposta de requalificação urbanística, explicou os detalhes, começando pelo todo “o Toural continuará a ser o espaço dos protestos. Continuará a ser um espaço menos centralizado em objectos monumentais, antes uma coisa muito mais plana”.

Esta amplitude será visível com a união do largo do Toural com o jardim da Alameda, transformando-o num só espaço.
No caso da Alameda, sublinha Seara de Sá, a ideia é acomodar alguns dos valores fundamentais de uso e ao mesmo tempo introduzir novos.

Neste contexto a proposta apresentada visa “a disposição de quiosques, zonas verdes e sobretudo quebrar uma regra que é de isolamento desses espaços relativamente aos espaços que lhe são adjacentes”. Procuraram, por isto os técnicos responsáveis pelo projecto, restabelecer ligações que a história quebrou.

Desta vez a ideia de reformulação pretende sê-lo no verdadeiro sentido da palavra e não apenas “alindar os espaços”.
Por isto mesmo o pressuposto a partir da qual foi elaborado o projecto, foi, segundo Seara de Sá, “permitir às pessoas usos diferenciados actualmente ausentes daquele espaço”. Um deles tem a ver com a retirada dos automóveis de toda esta zona. Quer isto dizer que apesar de o projecto de reconversão do Toural prever a construção de um parque de estacionamento, o mesmo não é “central na proposta, mas sim periférico em termos de desenho”, explicou Seara de Sá acrescentando que por isto mesmo as entradas e saídas do parque são colocadas nas “bordas dos espaços nobres, não os afectando”, antes deixando que aqueles espaços sejam utilizados pelas pessoas.

No caso da Alameda importa disciplinar a utilização do espaço fazendo com que os espaços do centro histórico se prolonguem para aquela área, redefinindo as plataformas.

No Toural bem notório será ainda o arranque das árvores, uma vez que o parque de estacionamento subterrâneo não permite que continuem ali, e a deslocação da estátua de Maria da Fonte (?).

Quanto ás árvores, garante o técnico que serão replantadas na Alameda, enquanto a estátua será recolocada uns escassos metros mais à frente, no enfiamento do acesso ao largo Condessa do Juncal, ficando no topo de um ‘espelho de água’.

Quanto à fonte, “será recolocada noutro local da cidade, estando ainda por definir onde”, garante.
No entanto, para colmatar a falta das árvores está pensada a colocação de grandes vasos e longas floreiras.

Numa breve referência à Rua de Sto. António, foi assumido que irá ser tratada, toda ela, como uma rua de peões. No entanto, o arquitecto foi adiantando que mesmo privilegiando-se o espaço de uso para peões, neste miolo “não vai excluir-se em absoluto a utilização de automóveis e transportes públicos”. Mas sobre os transportes públicos Seara de Sá já deixou claro que os mesmos terão um carácter diferente porque a mudança de espaços vai obrigar a uma alteração de filosofia dos transportes públicos. Quer isto dizer que a zona da Alameda deixará de ser uma espécie de interface de transportes públicos.
A lógica é que estes transportes “sirvam para levar as pessoas de um lado para o outro e não que estejam estacionados à espera dos passageiros”, explicou.

Ainda de acordo com a explicação técnica, o granito, tradicional na cidade, vai casar-se com outro tipo de materiais, pretendendo-se assim conferir menos monotonia na utilização de materiais de revestimento.
Pretende-se que, como acima referimos, que na Alameda haja quiosques, parques infantis e zonas ajardinadas.

A ideia é incorporar e aceitar alguns elementos e valores considerados pelos tecnicos essenciais na forma de viver a cidade. Um desses exemplo é a rotação dos jardins. A ideia é alargar o conceito de jardins de época a toda a zona da Alameda e com isso quebrar o isolamento que hoje caracteriza o jardim, provocado pelas sebes, transformando-o num jardim que apoie a zona comercial.
P
rocura ainda este arranjo, restabelecer ligações que de alguma forma foram quebradas como é o caso do centro histórico com a zona de Couros. A proposta apresentada na passada quinta-feira visa transparência e fluidez entre as duas zonas através de percursos pedonais.

Por:Teresa Ferreira 04-10-2007»

Paulo disse...

Todo este blá-blá serve só para destruir um jardim que não precisa de ser requalificado. As suas árvores já têm qualidade suficiente. Colmatar a falta das árvores com vasos e floreiras?!
Dizem eles que a cidade não será a mesma. Não será, seguramente, com toda esta nova fúria de modernização e progresso, desrespeitando as coisas boas que existem.

Anónimo disse...

Parece-me desde já bastante injusto culpar o Siza das consequências deste projecto. Efectivamente o Siza Vieira tornou-se para muitos (nomeadamente alguns autarcas) o biombo atrás de onde se escondem.
O problema essencial é a ideia de fazer aqui um parque de estacionamento. A ideia é da Câmara e o arquitecto é um mero executor dessa encomenda prévia, que tenta fazer o melhor que puder e souber. Não foi o Siza qu de repente se lembrou de fazer um subterrâneo no Toural.
Como é óbvio estacionamento subterrâneo e árvores por cima são incompatíveis, mas a culpa não é do arquitecto, mas de quem encomendou a obra.
Aliás os jardins históricos do Porto foram destruídos em 2001 para se fazerem também estacionamentos subterrâneos. Como também aconteceu em Braga no Campo da Vinha e na Avenida Central.
Na Avenida dos Aliados, depois da Metro ter esburacado o sub-solo e terem sido colocadas os acessos à estação dificilmente se poderia fazer uma coisa melhor. A culpa não é do arquitecto mas sim de quem se lembrou de fazer uma estação inútil só para estar em frente à Câmara.

Anónimo disse...

"Depois de dar conta que, passada uma semana da apresentação dos projectos, a 27 de Setembro, no Centro Cultural de Vila Flor, já tinham chegado ao site da Câmara cerca de 40 comunicações, em que “todas elas tocam no Toural” e “em que se pede a manutenção das árvores” - facto que o levou a considerar que “o projecto para o Toural é o que mais polémica suscitará entre os cidadãos - António Magalhães respondeu à oposição dizendo que a discussão pública foi feita no momento próprio."

Notícias de Guimarães

Arranjos Urbanísticos - Toural / Alameda de S. Dâmaso