Beco do Paço
O beco do Paço é uma curta viela sem saída que desemboca na rua de Clemente Menéres, mesmo ao lado do Jardim do Carregal. É um lugar sem dignidade suficiente para homenagear algum ilustre falecido, e por isso nunca nenhuma comissão de toponímica lhe quis mudar o nome. Ninguém lá mora: a ilha que lá existia foi demolida em 1999, e sobram, à face do beco, duas casas de dois pisos, desocupadas e em ruínas. A única utilidade da viela é servir de estacionamento gratuito a meia-dúzia de habitués que trabalham nas redondezas. Há também os gatos, moradores dos pardieiros, que vêm apanhar sol nos tejadilhos dos carros ou, em dias de chuva, abrigar-se debaixo deles. Logo à entrada do beco, vedada por desengonçado portão de chapas de zinco, há uma rampa de acesso a um terreno semi-arborizado que se estende até às traseiras da rua de Miguel Bombarda. O terreno já foi estaleiro de obras, e dessa sua ocupação sobraram materiais de construção, vários montes de entulho, e duas placas de cimento que a vegetacão espontânea vem metodicamente rompendo. Enquanto durar este fértil abandono, poderão vegetar tranquilamente as árvores que vejo da minha janela: palmeira-das-Canárias, sequóia, nespereira, plátano, ácer, figueira, ligustros, sabugueiros. À lista devo juntar a casuarina de que aqui falei vai para quatro anos (foto da esquerda) e que, entretanto, para orgulho de quem a apadrinhou, mais que duplicou de envergadura.
5 comentários :
Caros amigos do Blog
Acabo de chegar de umas férias, curtas, no Rio de Janeiro e tenho duas novidades para vos dar. A primeira é que as magníficas coripha do MAM e do Hotel Glória parecem estar a morrer. As cabeleiras de flores estão desgrenhadas e amarelecidas - também, coitadas, duraram quase um ano - e as folhas da palmeira caíram já.... Algumas companheiras mantém-se de boa saúde à espera que passem as décadas suficientes para também a elas a Mãe Natureza permitir o espectáculo da floração.
A segunda notícia é melhor, bem melhor. De visita à prestigiada Livraria da Travessa em Ipanema (aberta até de madrugada, com café e restaurante optimos... que saudade)fui, como era meu hábito quando morava no Rio, visitar a estante de Jardinagem e paisagismo e por lá me perder... eis se não quando vejo o vosso "À sombra de árvores com história"!!!!!!! Que surpresa boa. Adorei e quis partilhar convosco esta alegria.
Um grande abraço a todos
Leonor Moreira
A imaginação nesse espaço à solta.... gostei de a rever de saúde.
Quase um berço!
Abçs
Cara Leonor:
Muito obrigado pelas notícias. Ficamos muito orgulhosos por o nosso livro estar à venda no Rio de Janeiro - para mais estando ele esgotado em Portugal e sem reedição em perspectiva. Quanto às palmeiras floridas, nem esperávamos que ainda dessem sinais de vida: afinal, a notícia sobre essa floração é já de 2006, como se pode comprovar aqui e aqui.
Abraço,
Paulo Araújo
Eu morei na casa onde agora só existe a fachada.
Esse grande terreno, antes da demolição da ilha, estava dividido em quintais que os antigos moradores do bairro cultivavam com muito gosto e alguns deles ainda distribuíam as colheitas pelos vizinhos.
O motivo do fim, que deram aos moradores desse bairro foi ali seria construída uma residência universitária...
Gente boa, morava ali.
Boas lembranças!
Pelo que pude espreitar há tempos (do Centro Comercial) já nada de árvores existe. Pergunto-me quantos anos mais ficará aquele belíssimo lugar em abandono. Se era para residência universitária, os estudantes já se reformaram, certamente! Nasci por ali perto. No terreno que mostrais ao lado do bairro modesto, havia um grande palacete, do Snr. Vasques, com várias criadas de avental branco e coroa engomada na cabeça, e um cão de guarda o "Leão". A canalhada corria, quando o senhor, majestoso e de chapéu, subia a rampa para entrar o portão, para lho abrir: às vezes ele dava um tostão a algum... E palmeiras, latadas, hidrângeas, flores e arbustos cuidados. O senhor seria dono ou associado a caves do Vinho do Porto, em Gaia. Onde a minha querida avó trabalhou em limpezas: ia-se a pé, dali do Carregal, cortando as ruas velhas, atravessando a "ponte de baixo". O meu gosto era empoleirar-me em mesas e cadeiras até à clarabóia do telhado da minha casa e espreitar o luxo em que ali se vivia. Do outro lado do bairro ali encravado, havia uma quinta que ia pela à rua do Rosário até Miguel Bombarda. Pertencia ao Prof. Jaime Rios de Sousa e irmãs, mas nunca se via lá ninguém. Apenas - e do que gosto delas, desde sempre - maciços de japoneiras de todas as cores e feitios, palmeiras e árvores imponentes. E daí a minha pergunta de tantos anos: porque é que não se podia brincar naquele espaço tão bonito e solitário, tão abandonado? Coisas que as crianças engendram na cabeça e as marcam para sempre. Às vezes sonho com esses lugares. A casa está lá, recuperada, dois grande plátanos sobreviveram na entrada, CC, garagens, mais um condomínio e tal. Ah... a memória Tantas vezes dói. Abçs para vós
Bettips
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